07/11/08

TerÁ Steve Balmer enlouquecido?

É impressionante a quantidade de referências elogiosas à iniciativa [ao computador Magalhães], quer em órgãos de comunicação internacionais quer em blogs dedicados à temática da tecnologia

Por Luís Miguel Ferreira


Não é de agora! Os portugueses têm alguma dificuldade em reconhecer dentro de portas coisas boas que cá se passam, que cá se fazem! Basta ver um noticiário, em papel ou no monitor, para sentirmos, precisamente, esta dificuldade objectiva. Tudo (ou quase) é montado pela negativa, pelo lado destrutivo. Sim, porque tudo tem dois lados! É a velha história do “copo meio cheio ou meio vazio”.
O que gira em torno do computador português “Magalhães” é um excelente exemplo disso mesmo. É impressionante a quantidade de referências elogiosas à iniciativa, quer em órgãos de comunicação internacionais quer em blogs dedicados à temática da tecnologia. E apesar de ter sido absolutamente incrível a curiosidade que a iniciativa despertou por esse mundo fora, cá dentro, no nosso próprio país, há gente que preferiu desvalorizar, criticar, destruir e levantar confusão, alguns deles apoiados por alguma comunicação social especializada nesse tipo de abordagens. Mas com esses não quero perder nem mais uma linha.
No passado dia 3 de Outubro, esteve cá Steve Balmer, CEO da gigante americana Microsoft que é “só” a empresa que mais conhece o mercado das tecnologias no mundo inteiro. E Steve Balmer não esteve cá para visitar o Mosteiro dos Jerónimos! Steve Balmer veio reforçar a parceria da Microsoft com o Estado português, através da assinatura de um protocolo que permitirá levar software da Microsoft ao “Magalhães”. Quem esteve na sessão ou assistiu à entrevista que Balmer concedeu ao Expresso da Meia-Noite, percebeu bem o entusiasmo com que se referia à iniciativa. E devia enche-nos de orgulho ouvir este empresário dizer explicitamente que:
- a iniciativa é “incrível, única, espantosa e fenomenal”;
- não conhece outro país no mundo onde “cada aluno dos 6 aos 10 anos vai ter um computador portátil”;
- “não há nenhum país que esteja a fazer isto que Portugal está a fazer”;
- “o crescimento com conhecimento e utilização das TIC é uma coisa boa para a sociedade”;
- “o Magalhães é interessante não só por ser de baixo custo mas porque é realmente fácil de manusear pelas crianças, é à prova de água e fácil de transportar”;
- foi feito um “excelente trabalho na máquina pela empresa local que os fabrica”;
- a “Intel promoveu um conceito de computadores de baixo custo para miúdos, o que é óptimo, mas alguém tem de fabricá-los de facto, distribuí-los e de pô-los a funcionar”;
- “o Classmate é um conceito, enquanto que o Magalhães é um computador a sério”.
Obviamente que Steve Balmer e a Microsoft têm interesses comerciais em associar-se a esta iniciativa e, de facto, se estivéssemos perante algo desinteressante, Steve Balmer e a Microsoft, provavelmente, não se associariam. Mas eu pergunto: isso será mau para Portugal e para a economia portuguesa? Isso será mau para os portugueses? O que é que o Governo deve fazer quando uma empresa como a Microsoft pretende associar-se a um projecto português que considera único no mundo? As respostas deviam ser evidentes mas, para muitos, não são. E por isso, quando os jornalistas do Expresso da Meia-Noite perguntavam se o “Magalhães” era propaganda, Steve Balmer respondeu como sendo a pessoa que mais considerava a iniciativa incrível, “mais do que qualquer outra pessoa deste país”. E isso é que é mau! Ou terá Steve Balmer enlouquecido?

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