20/05/10

Da professora toda despida

Da professora toda despida e desta apagada e vil tristeza
que nos veste a todos…





cheias em mirandela


Escrito por Jorge Castro

Mirandela resolveu rivalizar com Bragança. Pelo menos na sanha pseudo moralista com que fez cair o gládio das virtudes balofas em defesa da «honra e integridade da Pátria», desta feita sobre uma professora de música que decidiu posar nua para a revista Playboy.


O director do Agrupamento de Escolas da Torre de Dona Chama, clarinho como a água de tanta ribeira poluída deste País, nos afiançou: "Aparecer numa revista sem roupa não é compatível com a função de professora e de educadora". E daí a anunciar a rescisão do respectivo contrato foi um ápice


E logo sequenciado por pudibunda e pressurosa vereadora que de pronto retirou a senhora da escola e catrafiou-a num arquivo, a bem da moral e dos bons costumes, quiçá ao abrigo dos olhares concupiscentes, protegendo-a a ela da gula dos concidadãos e aos concidadãos do pecado da gula (para além de outros menores, claro). Fica-me, confesso, a inveja dos bichinhos-de-prata, useiros e vezeiros nestas coisas dos livros e papéis velhos e que poderão desfrutar à vontade de quanto ao comum cidadão foi sonegado…


Dir-se-ia que às folhas de pauta ganharam as folhas de arquivo e estou certo de que andarão, por Mirandela, muitas vocações musicais em desespero de causa… e de efeito.


Eu poderia imaginar que alguém criticasse, à professora, o mau gosto de posar em tal publicação – que, ainda para mais, me constou que paga mal aos seus modelos.


Posso, até, imaginar, o insólito e inusual rebuliço que fervilhará na terra, onde toda a gente se conhece, e a onda de criatividade que deverá estar a assolar as mentes jovens e efervescentes.


Posso, ainda, desapreciar – sim, claro que já vi a revista! – o gosto da dimensão dos implantes mamários ostentados - ainda que, aqui, as opiniões seguramente divirjam...


Agora, criticar e – pior! – punir a senhora porque nas suas horas muito particulares fez do corpo o que muito bem entendeu e, ainda por cima, dentro da legalidade vigente, isso nunca me passaria pela cabeça.


Mas, não haja dúvidas, há cabeças por onde isso passa. Passa e fica, que dali nem se espera grande movimento. Mas como mandam em qualquer coisa, uma vez por outra lá têm de mostrar que estão vivos – conceito duvidoso, no caso, e carenciado de melhor análise – e lá mandam bojarda aos ventos.