29/11/08


Dias Loureiro deveria demitir-se do Conselho de Estado


Face à lei, um cidadão só pode ser considerado culpado quando a sentença de condenação transitar em julgado.
Ora, Dias Loureiro, no presente, nem tão pouco é acusado de nada. Mas está diariamente a ser noticiado como eventualmente envolvido em práticas BCN, que indiciam crimes.
Todavia, Dias Loureiro, não é um cidadão qualquer. Foi Ministro e é Conselheiro de Estado. Deste cargo que ocupa, ninguém o pode demitir e enquanto o ocupar tem imunidade.
É, por isso, óbvio, que se não se demitir desse cargo, para o qual foi escolhido pelo Presidente da República, todos pensaremos que se está a escudar naquele órgão para obstruir uma normal investigação judicial.
À semelhança de Jorge Coelho ou António Vitorino, deveria demitir-se imediatamente, do Conselho de Estado.
Deveria dar um passo para o lado e esperar que a verdade e a justiça venham ao de cima.
Deveria defender-se sem privilégios e como qualquer outro cidadão.
O MicroCrédito

O economista Muhammad Yunus inventor do MicroCrédito e o seu Banco Grameen.

O Microcrédito já existe desde 1976 quando esta ideia foi lançada no Bangladesch e já está em prática em muitos países do Mundo incluindo Portugal. O que é este conceito? Consiste é dar crédito com taxas de juro muito baixas ou nulas a pessoas que precisem de um pequeno investimento inicial para criarem o seu próprio emprego ou empresa.

O que está aqui em causa é que há pessoas com ideias de negócio, pessoas idóneas que, no entanto, não têm qualquer património que lhes sirva de fiança para criarem o seu trabalho ou negócio. Desta forma, e sendo as pessoas formadas e acompanhadas pela instituição bancária que lhes concede o crédito, podem montar o seu negócio e prosperar. Nalguns casos a prosperidade pode atingir grandes dimensões. Ainda bem que assim acontece. Noutros não atinge tamanhas dimensões mas cumpriu com o seu objectivo inicial. Também teve êxito.

Pessoas com espírito empreendedor não têm que ser necessariamente – no início das suas vidas – pessoas com património. São ao fim ao cabo, e independentemente da idade que tenham, que têm tudo menos o financiamento. Que, por exemplo, um avó rico lhes daria. Então porque não apoiá-las? Graças ao laureado estão a sê-lo por todo o Mundo.

A atribuição desde Prémio Nobel da Paz deve ser vista de dois prismas.

1. Há pequenos (grandes) problemas que se podem tornar grandes problemas mas que podem ser resolvidos com pequenas alavancas (soluções). De facto o desemprego é um grande problema individual que se pode tornar um grande problema social se não for resolvido. Mas não precisa de grandes medidas com grandes custos. Este MicroCrédito é uma pequena mas MUITO inteligente solução para o desemprego. Desemprego este que arrasta pobreza, fome e outros cancros da Sociedade Moderna. Depois já só se resolve, mas mal, com ajudas humanitárias e capacetes azuis.


2. Porquê o Prémio Nobel da Paz? Porque a pobreza, fome, crime e outros problemas sociais podem resultar em Guerras. É só por isso.

Em 1976 devia ser bastante inovadora esta ideia. Se calhar Yunus teve muitas dificuldades para impor a sua visão. Hoje em dia os grandes decisores já estão atentos e alertas para que grandes problemas podem ter pequenas soluções. Mas serão sempre soluções INTELIGENTES.
O retorno de Keynes

Robert Skidelsky

Eu sempre disse que John Maynard Keynes viverá enquanto o mundo precisar dele. O que o mundo decidiu, 30 anos atrás, foi que não precisava mais de Keynes. A revolução keynesiana foi reduzida a um sistema mecânico para a estabilização de economias por meio de superávits e déficits orçamentários - mais déficits do que superávits, conforme se viu, levando às crises “estagflacionárias” da década de 1970. Segundo os teóricos, Keynes foi redundante, não tendo conseguido provar que o mundo necessita das políticas “keynesianas”. O sistema de mercado se auto-corrigia automaticamente o keynesianismo só levava à inflação.

E, a partir desse ponto de vista, os teóricos tinham razão. A única base aceitável para a teorização econômica é o pressuposto de que os seres humanos são maximizadores racionais. Sendo isto verdade, segue-se que os vários distúrbios aos quais as economias de mercado estão susceptíveis são resultado de interferências externas. Para Hayek e Friedman, a culpa residia na manipulação de reservas monetárias por parte do governo com fins populistas. Fora os economistas, ninguém acredita que a natureza humana seja aquela descrita pela economia, mas, sem o seu axioma da racionalidade, a economia não poderia existir como a ciência que ela alega ser.

A grandeza de Keynes, e, na verdade, a sua singularidade como economista, é o fato de ele ter sido mais do que um economista. Além de ser um brilhante teórico e um grande administrador, ele foi o único poeta da natureza humana na área da economia. Ele tentou colocar a sua poesia a serviço da ciência e das políticas de governo. Mas tal proposta não se adequava bem à realidade, conforme ele próprio reconheceu em parte. A parte poética e a científica da sua teoria são discordantes. Assim, a poesia foi extirpada, e, com isso, a sua ciência também veio abaixo. De acordo com os teóricos, ele nunca conseguiu demonstrar por que agentes racionais deveriam desprezar negócios que os beneficiariam. Desemprego involuntário é impossível. E, assim que a ciência de Keynes se foi, restou pouco ou nada das políticas keynesianas. Tudo o que é necessário à economia é um sistema bancário central, cujos princípios são bem anteriores à economia de Keynes.

A forma como Keynes entende a psicologia humana nos mercados tem três características, nenhuma das quais encaixa-se no paradigma dominante da economia. O primeiro é a incerteza inevitável. “O fato notável é a extrema precariedade da base de conhecimento sobre a qual as nossas estimativas de possíveis retornos precisam ser feitas”, escreveu ele na sua obra-prima, The General Theory of Employment, Interest, and Money [A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda], de 1936.

Nós ocultamos esta incerteza de nosso pensamento ao assumirmos que o futuro será como o passado, que a opinião existente resume corretamente as perspectivas futuras, e ao copiarmos tudo o que os outros estão fazendo. Mas qualquer visão do futuro baseada “em uma estrutura tão frágil” está sujeita “a mudanças súbitas e violentas. A práticas da calma e da imobilidade, da certeza e da segurança, subitamente se esfacelam. Novos temores e esperanças tomarão conta, sem aviso, da conduta humana… O mercado ficará sujeito a ondas de sentimentos de otimismo e pessimismo, que não são razoáveis, mas que, de certa forma, são legítimos onde não existe uma base sólida para cálculos razoáveis”. Ele via a economia como “uma dessas belas e educadas técnicas que procuram lidar com o presente abstraindo-se do fato de que nós conhecemos muito pouco sobre o futuro”.

Face à incerteza, os verdadeiros motivadores do comportamento humano são muito diferentes daqueles cogitados pelos economistas. “A maior parte… das nossas decisões de fazer algo positivo… só podem ser vista como um resultado de espíritos animais… Se os espíritos animais são suprimidos… o empreendimento desvanece-se e morre”, é uma das suas famosas observações. O investimento profissional, escreveu Keynes, é como “um jogo de Snap, Old Maid ou Musical Chair”, no qual o objetivo é passar adiante a Old Maid - a dívida “tóxica” - para o vizinho antes que a música pare. Eis aqui a anatomia identificável da “exuberância irracional”, seguida pelo pânico cegante, que tem dominado a atual crise.

O segundo aspecto é aquilo que pode ser chamado de “organicismo” de Keynes. Ele era um individualista, mas em um sentido tradicional e quase religioso - ou seja, ele via os indivíduos como partes de uma comunidade de valores. A sua unidade de análise é bem diferente do “individualismo metodológico” que permeia o pensamento econômico. A essência disto pode ser difícil de se captar de forma abstrata, mas ela pode ser ilustrada nos seus escritos contra a idéia de fazer da folha de balanço e das análises de eficiência os únicos testes de virtude econômica. Na década de 1930 ele elogiou a sua própria cidade natal, Cambridge, como sendo um lugar onde podia-se passar uma tarde andando pelas redondezas, “conversando com amigos antigos” e fazendo compras em “lojas que são realmente lojas, e não apenas um ramo da tábua de multiplicação”. Visões como estas fizeram dele o único apoiador qualificado daquilo que atualmente é chamado de globalização.

Keynes teria aprovado a operação de resgate montada pelos governos mundiais para salvar o sistema bancário global. Como patriota britânico, ele estaria orgulhoso do fato de o seu país ter assumido a liderança nesta iniciativa. Mas ele estaria preocupado com o grande elemento de incerteza quanto ao resultado. O governo precisa injetar no sistema dinheiro suficiente para compensar a “propensão a acumular” (preferência por liquidez na linguagem de Keynes), de forma a fazer com que a taxa de juros de longo prazo caia. A questão é saber o quanto é suficiente. Se for muito pouco, a tendência deflacionária e uma depressão podem não ser evitadas se for muito, há o risco de inflação mundial. Nenhum cálculo mecânico fornecerá a resposta correta tudo depende da confiança com que as medidas são recebidas pela população. No momento, nós simplesmente não sabemos e nenhuma “técnica bela e educada” nos fornecerá a resposta.
Nada será como antes…

As instituições não podem permanecer imóveis diante de uma sociedade em plena mutação e em um mundo globalizado. Torna-se urgente redefinir o papel do Estado que, nos últimos anos, na Europa e América Latina, foi enfraquecido pelo lobby da governança mundial das agências internacionais.

Por Marilza de Melo Foucher

Talvez a crise financeira e econômica impulsionada pelo templo do capitalismo neoliberal seja salutar para a social-democracia e a esquerda democrática, levando-as a pensar na redefinição do papel do Estado no socialismo democrático. O capitalismo, como previu Marx se fez universal e, hoje, assistimos a sua crise. Entretanto, devemos tirar lições do acontecido no século passado, não ceder a falsas verdades, manteve um pensamento aberto a outros pontos de vista. O momento é de balanço e busca de alternativas para o enfrentamento da globalização excludente, o que depende da capacidade de esquerda para criar um novo universo político de transformação social de re-politização global da realidade.

A esquerda européia não deve se contentar em fazer o diagnóstico da crise financeira. Ela deve reagir e fazer proposições face à desordem internacional deixada pela governança mundial e ditada pela doutrina neoliberal. Infelizmente, entre 1980 e 1990, anos em que a democracia social esteve no poder em vários países europeus, a reação crítica à globalização econômica foi mínima. Tampouco houve oposição ao modo de governança mundial não compartilhada - consolidada no início dos anos 1990 pelas grandes organizações internacionais (FMI e Banco Mundial). Os governos das grandes potências, ditos socialistas ou social-democratas, preferiram legitimar um novo imperialismo (multilateral), que, operado em forma de consórcio internacional, passou a ditar normas diretivas como referências maiores da doutrina econômica neoliberal.

As agências multilaterais prescreveram o receituário da “boa governança”, que refletia o poder hegemônico das finanças dos detentores do capital (norte-americanos e, em seguida, europeus). Eles pretendiam administrar o aparelho de Estado dos países do Sul, pelo centro do sistema do capitalismo mundial, neutralizando, dessa forma, o poder dos Estados como entidades reguladoras. Assim, os países periféricos, incluindo os emergentes, passaram a ser mais e mais desconsiderados no cenário internacional.

O mundo global em meio às normas neoliberais teria somente dois atores principais: as empresas e os consumidores. Para os teóricos da governança mundial, a concepção do Estado-Nação deveria ser enterrada. Esse passou a ser visto como intruso pelos novos teóricos. No seu lugar, deveria aparecer o Estado empreendedor - um bom acionista. Nesse sentido, se analisarmos a reação do presidente Bush, dos EUA, do presidente francês Sarkozy e da União Européia à crise, podemos afirmar que eles agem em coerência com a lógica neoliberal: o Estado intervém para salvar os bancos comerciais e passa ser acionista. Enquanto isso, na França, Sarkozy privatiza os serviços públicos e vai suprimir 13.600 postos de trabalho no setor da educação. O resto é retórica para ocupar o espaço da cena internacional e esquecer o resultado nefasto de sua política econômica destinada aos ricos.

A verdadeira solução para a crise não está em salvar a arquitetura atual do sistema financeiro

As medidas tomadas pelo poder central (Estados Unidos e Europa) de investir recursos públicos nos bancos comerciais que alimentaram a especulação financeira reforçam ainda mais a concentração de capital em patamares nunca vistos. Os recursos públicos devem ser investidos nos bancos de desenvolvimento. Não existe razão para que os bancos comerciais privatizem os lucros e o Estado seja chamado ou se ofereça para socializar com toda sociedade, as perdas oriundas da especulação financeira.

Criada para defender os interesses do mercado global, a governança mundial é quase uma estratégia de guerra econômica, onde os mais bem instrumentalizados dominam e impõe suas regras. Uma minoria governa sem legitimidade para uma maioria. O resultado das reformas adotadas pelo Estado neoliberal foi desastroso para o interesse geral das populações dos países do Sul. Quem pode esquecer do receituário do FMI imposto aos países da América do Sul recém saídos das ditaduras, tais como Brasil, Chile, Argentina, Paraguai e Uruguai? Os atores globais do neoliberalismo tentaram legitimar a idéia de que a sociedade e a economia podem por si mesmas se organizar sem a presença do Estado. Nesse sentido, ressalta-se o papel da mídia (em geral, controlada por grupos econômicos) na difusão desta concepção de governança por atores globais.

No momento em que a democracia triunfa na América do Sul, seus povos sonham com a constituição de um Estado-Nação que supere práticas ditatoriais, populistas e intervencionistas. Enquanto isso, os principais atores globais da “governança mundial” optam por um modo de organização da sociedade, centrada em torno do funcionamento “soberano” do mercado, sem regulação do Estado.

Como responder aos desafios da democracia, quando o papel do Estado se enfraquece no atendimento do cidadão e se fortalece para responder aos reclamos da política financeira sob controle dos grandes organismos internacionais e dos agentes transnacionais?

As crises econômicas transformavam-se em crises estruturais (sócio-econômica, política, cultural e ambiental) e atingiam seu patamar nos países periféricos. Raros foram os governos dos países do Norte que manifestaram sua solidariedade e solicitaram mudanças nas regras de regulação comercial internacional.

Todavia, uma governança mundial que governa sem governo, buscando “construir legitimidade” sem democracia representativa e resolve os conflitos internacionais sem necessidade de dispor de maioria, não pode perdurar diante do avanço da cidadania política dos países em crise que elegeram governos de esquerda e centro-esquerda no subcontinente sul-americano.

Pela primeira vez, as grandes potências percebem que a bolha especulativa navega pela rede mundial de computadores numa velocidade tal que os trilhões de dólares e euros se evaporam em segundos! Por falta de regulação mundial, a economia virtual entupiu-se de vírus que só o doutor Estado pode curar. Seus dirigentes aos poucos tomam consciência da desordem mundial, da qual foram os principais protagonistas. Daí as duras reações dos governos sul-americanos. Na abertura da 63ª Assembléia da ONU, Lula disse que a euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos e acrescentou: “Está em curso a construção de uma nova geografia política, econômica e comercial no mundo. No passado, os navegantes miravam a estrela polar para ‘encontrar o Norte’, como se dizia. Hoje, estamos procurando as soluções de nossos problemas contemplando as múltiplas dimensões de nosso Planeta. Nosso ‘norte’ às vezes está no Sul”.

As condições propícias para a expansão do mercado global foram criadas, mas quem usufruiu desse sistema? Os mesmos que hoje decretam sua falência. Restou a ruína do Estado Providência, o último suporte de uma vida coletiva! O neoliberalismo nunca foi um modelo de desenvolvimento, mas de dominação. Como dizia o sociólogo suíço Jean Ziegler membro do Comitê Consultivo do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, “O ser humano deixou de ser centro para ser periferia!”. Com a crise financeira, a consciência humana vai despertar, sobretudo nas democracias. A opinião pública vai entender a loucura deste neoliberalismo, desta poderosa potência de mão invisível do mercado, que baniu o homem como sujeito coletivo ou individual da história ou da economia.

Os que contribuíram na formulação do dogma anti-Estado voltam hoje a defendê-lo, não para que o Estado volte às funções para as quais foi criado, mas para salvar os bancos, transformando-se em Estado acionista. Dai os discursos de Bush e Sarkozy soarem como hipocrisia. Certamente a regulação mundial dos fluxos financeiros é necessária. Entretanto, a realidade demonstra que o esfacelamento do Estado, bem como o da coletividade, cedeu ao determinismo das bolsas de valores.

Os neoliberais querem socializar as perdas com aqueles que nunca foram convidados a compartilhar da mesa quando esta era farta. O pior é que eles encontram-se diante de um vazio institucional, com contornos mal definidos. O FMI não sabe como reagir diante da crise dos países ricos, e as reuniões da OMC continuam sendo diálogos de surdos. A governança mundial de ideologia neoliberal é morta e ninguém quer carregar seu caixão. Diante da impossibilidade da gestão da crise do sistema econômico mundial pelo neoliberalismo, os discursos proliferam para re-fundar o capitalismo. Os políticos e os economistas que substituíram Keynes por Milton Friedman, precursor do neoliberalismo, preferem ressuscitar Keynes para salvar a desordem mundial deixada pela prática neoliberal, que postulava às cegas a idéia de que a força do mercado por si só iria gerar progresso e impulsionar o desenvolvimento econômico. Agora, a tendência se inverte: o Estado deve ser reabilitado para regular o mercado e pagar a conta da derrocada do capitalismo neoliberal. O paradoxo é buscar soluções, no nível local, para a crise global. Agora, exige-se uma resposta política e não mais econômica.

Como transformar a fatalidade em oportunidades?

Os governos de esquerda e centro esquerda que estão no poder, ou, que se preparam para assumi-lo devem aproveitar as ambigüidades do discurso da direita sobre a volta do Estado, para propor uma nova engenharia do Estado republicano e democrático. Um Estado que guarde todos os fundamentos de seu papel como regulador da coesão territorial, política, econômica, social e ambiental. Um Estado que possa assegurar um eco-desenvolvimento consentâneo com cada realidade, construído dentro de uma visão sistêmica em que o econômico não seja predominante, e simplesmente inserido num sistema de produção de utilidade social e ambiental.

As instituições do Estado não podem permanecer imóveis diante de uma sociedade em plena mutação e em um mundo globalizado. Torna-se urgente redefinir o papel do Estado que, nos últimos anos, na Europa e América Latina, foi enfraquecido pelo lobby da governança mundial das agências internacionais. O Estado deve se fortalecer para responder aos desafios da crise estrutural deixada pela ideologia neoliberal.

Por isso, cabe ao Estado republicano e democrático instaurar uma governabilidade que esteja a serviço de um desenvolvimento economicamente eficiente, socialmente eqüitativo e ecologicamente sustentável. Este tipo de desenvolvimento se funda na busca de integração e de coerência das políticas setoriais. Por esta razão o eco-desenvolvimento territorial exige um tratamento conjunto dos efeitos econômicos, sociais e ambientais de todas as ações governamentais. Este procedimento holístico exige que a realidade seja diagnosticada a partir da visão pluridisciplinar.

A elaboração e execução de qualquer programa, plano, projeto e atividades concernentes ao eco-desenvolvimento territorial, devem ser viabilizadas através de relações de parcerias múltiplas, a partir de contratos de objetivos precisos na definição do papel de cada ator envolvido. Seu sucesso depende da reciprocidade da cooperação entre diferentes áreas do conhecimento, entre elas a economia, a sociologia, a geografia a ecologia, a biologia e a antropologia, bem como de diversos setores tais como o dos transportes, do saneamento básico, da infraestrutura urbana, do meio ambiente, da assistência social e o da organização territorial. Tudo com a presença de categorias e segmentos sociais representativos (segmento empresarial, instituições associativas, órgãos institucionais, e não governamentais, sindicatos), agindo em níveis de escalões territoriais diferentes, seja em termos local, regional, nacional e internacional. Não existe eco-desenvolvimento territorial sem visão integrada da realidade e sem participação ativa da cidadania política. A mobilização e o envolvimento de todos os atores da sociedade civil não significa instrumentalização, mas, colaboração na co-gestão do eco-desenvolvimento territorial. Todos os atores sociais devem ter a possibilidade de engajamento nos processos de decisão. Será somente através da participação da cidadania e de um procedimento integrado e articulado que o desenvolvimento garantirá sua sustentabilidade.

A utopia compartilhada é que faz avançar a história, e nos faz avançar na concepção de um mundo mais solidário.
O mundo pós-crise

Luís Nassif

O primeiro é a constatação da mudança radical sobre o papel dos Estados Unidos no novo mundo. Ao contrário da Inglaterra, a grande hegemonia americana foi conduzida por suas grandes corporações, especialmente em três sectores, a mineração-siderurgia, a indústria automobilística e o sector financeiro.

Coube a elas espalhar o poderio americano pelo mundo, os hábitos empresariais, a influência política. A diplomacia americana quase que caminhava atrás, respaldando suas acções.

Com o tempo, essa expansão levou à perda da identidade nacional, dos vínculos com o país. A expansão levou-as a privilegiar a produção de manufacturas na Ásia. Especialmente na China. Com o tempo, as linhas de produção foram transferidas para lá, reduzindo o potencial de emprego norte-americano.

Os ganhos eram na forma de dividendos recebidos e na expansão das instituições financeiras.

Nas décadas passadas, os EUA perderam a primazia da mineração e da siderurgia. Desde o começo da década, a primazia do sector automobilístico. Problemas trabalhistas em Detroit, erros de avaliação sobre os novos modelos (com alto consumo de combustível), fizeram com que gradativamente seu espaço no mercado passasse a ser ocupado primeiros pelos japoneses, depois pelos europeus, finalmente, pelos coreanos.

A bolha da tecnologia segurou a expansão do sector de telecomunicações. Manteve-se o da indústria de software.

Nos últimos seis meses, caíram os últimos símbolos do predomínio americano, os grandes bancos de investimento que, desde o início do século 20 representaram a ponta de lança do poderio americano.

Não significa a decadência americana, mas o fim do predomínio absoluto. Obviamente há no país um estoque imenso de pesquisa, inovação, capacidade gerencial, ambiente favorável de negócios. Mas, agora, sob um mundo bem mais equilibrado.

Ponto importante nesse jogo é o novo papel desempenhado pelos emergentes. Tanto as montadoras quanto os bancos têm garantido que poderão abrir mão de subsidiárias em vários países, menos em alguns emergentes - como o Brasil.

Não se sabe como o mercado interno norte-americano emergirá da crise actual. Barack Obama já deixou claro que implementará um programa similar ao New Deal, de Roosevelt. Ou seja, prioridade para as pessoas físicas, para a geração de empregos, para a solução da inadimplência dos mutuários.

É um desafio ciclópico, o de unificar a nação em torno de bandeiras de solidariedade, já que os beneficiários do modelo anterior ainda mantém a influência política - como acontece em todo final de ciclo.

Mesmo assim, levará muito tempo até que o mercado interno americano recupere o dinamismo das últimas décadas - já que o motor principal, o crédito, ficou profundamente avariado.

Significa que, quando a economia mundial começar a mostrar sinais, ainda que ténues, de recuperação, o investimento preferencial das multinacionais será em grandes emergentes, como o Brasil.

O desafio é prender a respiração e chegar à outra margem do rio.
Crise economica:

Grande oportunidade de “inovação disruptiva” para as empresas

Com a globalização veio o declínio do domínio americano nos setores de fabricação, energia e até mesmo no setor financeiro. Uma coisa, porém, continua de pé: a boa e velha engenhosidade americana.

Mas até isso parece estar em perigo atualmente. A China, cujas indústrias são motivo de inveja no Ocidente mais por sua tenacidade do que por sua engenhosidade, criou uma estrutura que, ao longo de alguns anos, deverá torná-la mais inovadora e, portanto, mais competitiva. Cingapura fez o mesmo. A Finlândia juntará sua principal escola de negócios à escola de design e de tecnologia para formar uma “universidade da inovação” multidisciplinar no ano que vem.

Membros do conselho da Academia Nacional de Ciências e da Academia Nacional de Engenharia mostraram-se “preocupados com o fato de que o enfraquecimento da ciência e da tecnologia nos EUA possa degradar as condições sociais e econômicas do país e, de modo particular, comprometer a capacidade dos seus cidadãos de competir por empregos de maior qualidade”, conforme relatório de 600 páginas das Academias Nacionais publicado em 2007 com o título “Para vencer a tempestade que se aproxima”.

O fator imprevisível atualmente diz respeito ao futuro da inovação - isto é, ao avanço das idéias progressistas na ciência, na tecnologia e nos negócios. O que será dela agora que a economia mundial está em crise? É opinião corrente que empresas, o governo e o mundo acadêmico vão estar menos dispostos a correr riscos e a trabalhar com os custos de curto prazo que acompanham o território da inovação.

Contudo, Paul J. H. Schoemaker, diretor de pesquisas do Centro de Inovação Tecnológica Mack (Mack Center for Technological Innovation), diz que, no caso de algumas empresas, a crise econômica pode muito bem servir de plataforma para a inovação. “A crise tem impactos variados”, diz Schoemaker. “Os prejuízos com receita e lucros vão instilar, num primeiro momento, uma mentalidade de corte de custos, o que não é bom para a inovação. No entanto, quando o paciente estiver sangrando, primeiro é preciso estancar a hemorragia. Em seguida, começa uma fase em que os líderes procuram saber que partes do seu modelo de negócios não vão bem (e, talvez, sejam até mesmo insustentáveis). Daí poderá decorrer a reestruturação e a reinvenção.”

Ele adverte também contra o excesso de precaução - dependência exagerada da inovação incremental em detrimento de uma inovação transformadora ou “disruptiva”. Nos círculos de inovação, esses dois tipos de inovação são conhecidos como “i pequena” e “i grande”. Os maiores ganhos de uma empresa provêm das inovações mais ousadas, que desafiam os paradigmas e a empresa”, diz Schoemaker.

O negócio da ruptura

Embora a “inovação disruptiva” tenha se tornado palavra de ordem nas empresas há apenas uma década aproximadamente, a idéia é bem antiga: o economista austríaco Joseph Schumpeter a tinha em mente quando se apropriou da expressão “destruição criativa” para expor suas teorias sobre o modo pelo qual o empreendedorismo serve de esteio para o sistema capitalista.

Portanto, de que forma um empreendedor ou uma empresa se tornam “disruptivos”? Como convencer os investidores ou os altos escalões do valor de uma idéia radical?

Se há alguém que sabe como levar ao mercado as inovações disruptivas, esse alguém é Jeong Kim, presidente do Bell Labs, na Alcatel-Lucent, e um bem-sucedido empreendedor do segmento de tecnologia. Kim apresentou algumas sugestões em uma apresentação recente intitulada “Abrindo caminho para a inovação disruptiva”, cujo conteúdo faz parte de uma série de palestras do programa de Mestrado Executivo em Gestão de Tecnologia (Executive Master’s in Technology Management, ou EMTN), cujo tema é: Alinhando tecnologia e empresas emergentes.

Entender a importância da inovação disruptiva é o maior ativo de qualquer empresa. Numa empresa bem-sucedida - ou numa empresa com várias camadas de burocracia que tolhem o surgimento de novas idéias - isso pode ser muito difícil. Ela precisa também se dedicar à pesquisa. “A pesquisa disruptiva é fundamental, sobretudo no segmento tecnológico.”

Além disso, não basta simplesmente contar com engenheiros brilhantes. Se não houver uma gestão competente, a tecnologia mais refinada pode acabar na lata de lixo da história corporativa ou, pior do que isso, pode acabar nas mãos da concorrência: “A inovação disruptiva não é suficiente”, diz Kim. “Podemos citar numerosos exemplos de empresas que introduziram novas tecnologias mas que, no fim das contas, acabaram suplantadas por outras.”

Na linguagem da inovação, essas “outras” são conhecidas como “seguidoras velozes” - ou seja, são empresas com financiamentos melhores ou administração mais precisa e que conseguiram explorar uma tecnologia de maneira mais rápida e eficaz no mercado do que seu criador original. “Em se tratado de novas tecnologias, não há quem não goste de sair na frente”, diz Kim. “Contudo, quanto mais flexível e inovadora a empresa for no tocante ao seu modelo de negócio, mais tempo terá à sua disposição para administrar essa vantagem.”

Com isso, chegamos à seguinte questão: qual o melhor modelo de negócio para promover a inovação? Existem, como se sabe, numerosas ferramentas de tomada de decisão para auxiliar as empresas a administrarem sistematicamente os programas de inovação, observa Schoemaker, co-autor de um livro intitulado Wharton e a gestão de tecnologias emergentes.

De acordo com Schoemaker, em se tratando de inovação, a analogia deve ser feita com o disparo de uma escopeta, e não de um rifle. Dada a alta incidência de projetos de inovação, seria bom que as empresas trabalhassem com uma série de situações e contingências possíveis, em vez de colocar todas as suas esperanças em um plano apenas. Fazer as coisas sempre do mesmo jeito parece ser um bom clichê corporativo - funcionou bem para muitas empresas que sobreviveram à era pontocom.

Schoemaker, porém, e outros gurus da inovação, advogam a importância de se avaliar as áreas próximas ao principal negócio da empresa e considerá-las solo fértil para avanços inovadores. Estratégias antigas e lineares que confiam apenas em esquemas de mensuração convencionais são, via de regra, ultrapassadas e não devem ser a única fonte de recursos da empresa. “Ao examinar a lacuna de crescimento da empresa, desenvolver cenários, explorar áreas adjacentes e se aventurar mais em “oceanos azuis”, as empresas tendem a colher muito mais benefícios”, diz Schoemaker. (A expressão “oceano azul”, no jargão da inovação, corresponde a mercados desconhecidos e, portanto, ainda não disputados). “A estratégia de investimento, porém, deve dar mais atenção a uma tática de opções e de portfólio, em vez de prestigiar sempre o método estático de avaliação pelo Valor Presente Líquido (VPL).”

Mary Benner, professora de administração da Wharton, diz que a síndrome do “faça tudo sempre do mesmo jeito” impede as empresas de grande porte de reagir à ameaça da concorrência. “Creio que a inovação introduzida pelas empresas através de novas tecnologias radicais ou novos mercados pode parecer aos acionistas e analistas de valores mobiliários um afastamento muito grande em relação às expectativas dessas empresas. Investidores e analistas muitas vezes preferem que as empresas maximizem o valor gerado para o acionista fazendo as coisas do jeito que sempre fizeram. Disso resulta que empresas de grande porte, principalmente as que todos esperam que tenham lucros e distribuição de dividendos estáveis e previsíveis - isto é, empresas com ‘ações geradoras de renda’ - dificilmente serão bem vistas pelo mercado acionário por introduzir novas tecnologias ou inovações radicais. Pelo contrário, serão punidas com a redução dos preços de suas ações e em seu valor de mercado.”

Benner cita como exemplo típico disso em sua pesquisa o caso da Verizon Communications, uma companhia peso pesado do setor de telecomunicações. Analistas do mercado de ações questionaram os enormes desembolsos de capital da empresa na FiOS, uma rede de fibra ótica de alto volume cujo propósito é fazer frente à “tripla” ameaça ao seu negócio representada pela Comcast nos segmentos de TV a cabo, Internet de alta velocidade e serviço telefônico VoIP

“Pesquisas recentes indicam que o mercado acionário não reage bem a inovações intangíveis e de uso incerto e às mudanças tecnológicas”, diz Benner. “O que isso significa para as empresas de grande porte de capital aberto? Significa que talvez fiquem em desvantagem se decidirem incorporar alguma inovação radical. Essa inovação, portanto, deverá ser bem-vinda em empresas novas financiadas pelo capital de risco.”

A terceirização da inovação poderá se tornar moda num futuro não muito distante. “É notória, principalmente no segmento farmacêutico, a disposição com que as grandes empresas incorporam inovações já introduzidas por empresas pequenas de capital fechado, como em companhias novatas do setor de biotecnologia”, diz Benner. “É provável que boa parte das inovações realmente radicais migre das grandes empresas para as pequenas novatas.”

Esse cenário aponta para o surgimento de uma “forte tendência” no desenvolvimento do produto: a chamada “Inovação Aberta”, conforme explica George S. Day, professor de marketing da Wharton e co-diretor do Centro Mack de Inovação Tecnológica. Day é também um dos autores de Wharton e as tecnologias de gestão emergentes. A Inovação Aberta, também conhecida como crowdsourcing, supõe o trabalho em conjunto entre parceiros para a resolução dos problemas da empresa.

O arquétipo desse modelo é a InnoCentive, de Waltham, Massachusetts. A empresa estabelece o contato entre indivíduos dentro da empresa com problemas nas áreas de ciências, engenharia e negócios com amadores fora da empresa espalhados pelo mundo todo e em condições de resolvê-los. Essas pessoas disputam então - pelo direito de alardear suas realizações e em troca de uma premiação simbólica - a oportunidade de proporcionar as melhores respostas para os problemas das empresas. “A maior parte das empresas não está em busca de uma inovação espetacular que lhes permita um avanço surpreendente”, diz Day. Pelo contrário, o que elas querem é a solução rápida de uma parte específica de um quebra-cabeças maior.

Para empresas que desejam conseguir a “fórmula mágica” que lhes permita resolver sempre seus problemas internamente, todo sucesso prévio pode se tornar um enorme impedimento à inovação, diz Kim. O problema é que o sucesso cria um constructo virtual, um paradigma de “como fazer as coisas” que não deixa espaço para que o pensamento novo floresça. Kim refere-se a essa situação como “maldição do conhecimento”. A formação de equipes com indivíduos de campos distintos “é uma forma de quebrar essa maldição”, diz ele. Outra maneira de romper essa condição consiste em formar “duplas mistas”, em que um profissional experiente se associa a um indivíduo com muito pouca experiência, porém dotado de uma perspectiva original no tocante à forma de resolver os problemas.

O excesso de informações apresenta uma oportunidade incrível de inovação disruptiva, diz Kim. O conhecimento está sendo gerado a um ritmo muito mais veloz do que qualquer ser humano jamais poderá ter esperanças de assimilar. A desvantagem é que constantemente descartamos um volume enorme de dados porque somos bombardeados com uma dose maciça de informações inédita na história.

Para provar sua tese, Kim exibiu para o público do programa de mestrado um filme em que se reproduzia uma velha experiência psicológica. Duas equipes, uma de branco e outra de preto, arremessavam bolas de basquete jogando-as para frente e para trás. Kim pediu ao público que contasse o número de passes feitos pelos membros da equipe de preto. Alguns estudantes não se deram conta da presença de uma pessoa vestida de gorila que caminhava displicentemente pelo meio do cenário, uma vez que não haviam recebido instrução nesse sentido. “Tenho certeza de que todos vocês viram o gorila. Uns, porém, processaram o que viram e armazenaram a informação; outros não se deram conta da presença dele porque sua atenção estava voltada para uma informação específica.”

Sete horas de rafting em corredeiras

O termo “tecnologia disruptiva” difundiu-se em fins dos anos 90 depois do lançamento do livro O dilema do inovador, de Clayton Christensen, professor da Escola de Negócios de Harvard. Na prática, porém, os Laboratórios Bell serviram de incubadora para as inovações “disruptivas” que mudaram vários paradigmas desde sua fundação em 1925 fruto de uma joint venture entre a AT&T e a Western Electric.

Pesquisadores do Bell Labs do norte de New Jersey ganharam seis prêmios Nobel e foram responsáveis por uma série de inovações. Foram eles que inventaram a célula fotovoltaica, o transistor de silício, o controle do processo estatístico, o sistema operacional UNIX, a linguagem de programação C, a tecnologia digital para celular e redes de área local sem fio. Estas são algumas das inovações mais conhecidas que ganharam forma ali.

Hoje, disse Kim, os pesquisadores do Bell Labs trabalham com tecnologias igualmente revolucionárias. Eles estão desenvolvendo, por exemplo, um sensor líquido que pode tomar qualquer forma mediante a aplicação de voltagem - Kim prevê que o sensor possa ser utilizado como lente equipada de zoom. A divisão também recorre à nanotecnologia para criar imagens em 3D. “Vocês já viram em filmes de ficção científica imagens holográficas em 3D? É possível fazê-lo utilizando as tecnologias de hoje, só que ainda é muito caro.”

Kim apresentou um estudo de caso da Alcatel-Lucent - Lucent Technologies na época - sobre como injetar o espírito de inovação disruptiva em uma cultura estagnada. A divisão de redes óticas da Lucent havia tido um desempenho terrível e a empresa demitira os principais gerentes da unidade. “Eu sabia perfeitamente a razão pela qual eu havia sido posto ali: ninguém queria fazer o que eu teria de fazer, e eles precisavam de alguém em quem pôr a culpa”, disse Kim.

A divisão estava moribunda: os resultados financeiros eram decepcionantes e o moral estava baixo. Kim fez uma faxina na equipe de gestão e levou os sobreviventes para um local distante da empresa utilizado para a prática de rafting em corredeiras. “A primeira coisa que todo o mundo diz numa situação dessas é ‘Para que tudo isso?’ Pouco depois vem o tédio.” O exercício, cuja finalidade é promover o trabalho em equipe e a cooperação, foi idealizado por um psicólogo. Em vez de se ajudarem mutuamente, os gerentes usavam os remos para jogar água uns nos outros, “como se fossem crianças”.

Contudo, a experiência psicológica não terminou com o fim do rafting. “Depois de seis ou sete horas de exercício, estavam todos cansados.” Naquela noite, durante o jantar, aqueles executivos deixaram de lado a postura “profissional” com que haviam chegado ao local e passaram horas aprendendo uns sobre os outros.

No dia seguinte, houve novamente várias sessões em que se discutiram estratégias e mais rafting. No entanto, segundo Kim, a interação foi mais genuína e produtiva do que no dia anterior, em que os participantes não passavam de quase estranhos. No primeiro trimestre posterior ao evento, diz Kim, as receitas do grupo saltaram para US$ 510 milhões; no trimestre seguinte, para US$ 560 milhões; depois, US$ 730 milhões e US$ 970 milhões. Moral da história: “O trabalho em equipe é fundamental para o sucesso de qualquer empresa.”

O conselho de Kim para que ocorra a inovação disruptiva não é exatamente revolucionário, embora possa parecer extremamente raro quando muitas empresas ainda raciocinam em termos trimestrais e os funcionários compartilham também dessa visão de curto prazo.

Nem mesmo o célebre Bell Labs parece estar imune à pressão de produzir uma tecnologia que seja rapidamente utilizável. Numa atitude que chocou o mundo da ciência, a Alcatel-Lucent simplesmente cancelou, no verão passado, o financiamento para pesquisas em física básica do Bell Labs. Funcionários da empresa disseram que tomaram a decisão com o objetivo de aproximar mais o Lab dos interesses comerciais da matriz nos segmentos sem fio, ótico, de redes e da ciência da computação. Ou, como disse Peter Benedict, porta-voz da Alcatel-Lucent, à revista Wired em agosto: “No novo modelo de inovação, a pesquisa deverá sempre acompanhar as necessidades da sociedade controladora.”

A pesquisa básica lida com a questão mais fundamental da ciência e não tem nenhuma aplicação direta. Ao mesmo tempo, ela lançou os fundamentos da maior parte das conveniências modernas de que desfrutamos hoje, como a aviação comercial, o GPS e os vários tipos de laser.