31/05/10

Apelo a José Sócrates e Manuel Alegre

Por Elisa Damião

Este artigo foi publicado em 2008-12-30


Todos teremos um papel que terá de ser coeso e solidário, para restaurar a confiança perdida neste mercado afundado em corrupção com a cumplicidade ultra liberal.

Com a legitimidade moral de uma militante há 30 anos que quem deu tudo ao serviço do PS, no exercício de funções públicas ou cívicas, a todos o níveis, que iniciou actividade política depois de ter sido eleita pelos companheiros de trabalho, na Lisnave. sempre que puderam votar, contra a hegemonia do PCP, correu riscos antes e depois do PREC, e acabou a sua vida pública durante uma reunião de trabalho acometida de grave hemorragia cerebral que a deixou com grande incapacidade motora.

Se agora falo do meu estado de saúde, que vivi com discrição, em família, é para avaliarem a minha indignação para o que parece ser a eminente fractura do Partido Socialista que pode dar de bandeja o poder à direita, por muito tempo.

Tenho ainda a legitimidade, ditada pela prudência fundada no conhecimento das personalidades destes dois excelentes interpretes parciais, do pensamento de muitos militantes socialistas, em que não votei, exactamente por serem o que são líderes de facção.

De Sócrates nunca esperei um líder Socialista não tem formação política sólida, desconhece a História das Ideias Políticas, não deve ter lido os ideólogos da formação do Partido Socialista em finais do Séc. XIX, XX, jamais citaria Antero, ou sequer os mais recentes António Sérgio e Henrique de Barros.

Da geração de Mário Soares, dos Socialistas construtores da Europa com ambição solidária, toda essa elite extraordinária que nos legou o combate por uma Europa assente no paradigma das Liberdades no plural, como resumia Mitterand, que na juventude trabalhou com Jean Monnet, que inclui: a Paz; Democracia; Direitos Fundamentais e Sociais, Igualdade sob o primado da Solidariedade entre países regiões e cidadãos.

Sócrates, tomou as bases essenciais, deste legado, num tempo muito difícil de garantir igual dedicação a todas as frentes desta exigente herança.

Hesitou, entre a 3ª via de Blair derrotado pela guerra do Iraque, e a crise económica e social global, causada pela escola de Chicago, os idólatras do mercado sem regras, de que Blair foi fiel servidor.

Sócrates, acabou, felizmente, por se juntar a Zapatero, com a inteligência de unir esforços com outros políticos para melhor servir Portugal.

Surpreendeu-me com a grande capacidade de comunicar, é inteligente, assertivo, no tempo e no modo de falar com os media. Distanciou-se de tal modo de Guterres que parece mais obstinado e arrogante, do que realmente é.

É ideologicamente um Social liberal, o que nunca lhe tirou o sono, antes um socio-liberal convicto que um radical demagogo.

Convenceu-me com a coragem de assumir algumas medidas arrojadas, no domínio da sociedade e família, particularmente no combate às corporações, instaladas desde a idade média, a célebre Casa dos 24, que o Marquês de Pombal extinguiu na lei e Salazar reabilitou, impediram a democraticidade da vida das Instituições fundamentais a que muitos sindicalistas socialistas deram o combate de uma vida contra unicidade.

Porém a cultura corporativa sobreviveu até aos nossos dias cujo combate Sócrates assumiu desde logo, decidido a acabar com os regimes de excepção, inadmissíveis no Estado de Direito.

Todos temos o dever e o direito de ser avaliados, sejamos políticos, juizes, médicos ou professores, podem e devem discutir-se os métodos. A avaliação de desempenho em política é a mais difícil, sujeita a incompreensões ao jogo obscuro de interesses de grupos detentores dos media, aos egoísmos individuais, mas todas as profissões podem ter mecanismos técnicos, com profissionais habilitados, para qualificar o desempenho com grande objectividade, que não deixe dúvidas, e deve ter consequências ou não será séria.

Não é mais possível manter impunes os que não se empenham, não se preparam para corresponder aos desafios do futuro, ocupam o quadro, impedindo a qualidade das Instituições.

Para além do ruído de fundo das manifestações e chantagens, com fins políticos, tentam impedir o governo de mudar este cenário inaceitável, de abandono precoce da escola e deficiente preparação dos alunos, não se verificam propostas construtivas, sendo legitimo concluir que só estão interessados em atingir o governo.

São porém, evidentes as dificuldades dos governantes sem experiência política para dar combate igualmente político às manipulações partidárias.

Dos descontentes, a maioria é motivada apenas pelos naturais receios, não fundamentados, uma vez que a ausência de gestão responsável, permitiu hábitos instalados, cuja inércia causa rejeição à mudança seja ela qual for, desde que aumente as responsabilidades e recompense o mérito.

A ausência de debate nos órgãos do PS, marginalização e desconsideração dos militantes, começou antes de Sócrates, com que Alegre indiferente se acomodou durante anos.

Reagiu quando o preteriram, como candidato presidencial, e ele que é a alma do PS, o romântico combatente da ditadura, o mais amado tribuno muitas vezes ausente, nos combates internos pela pluralidade, parece querer trilhar os nefastos caminhos de Chevenement e Lafontaine que instalaram a direita no poder em França e na Alemanha, depois do fracasso da esquerda caviar, irrealista de Josepin, puseram em causa, de facto, toda a ambição de nova geração de políticas sociais compensadoras das necessárias mudanças do mercado de trabalho, pelas transformações tecnológicas e demográficas, impediram que mais cedo os Socialistas franceses iniciassem o debate da globalização existente que constava no programa dos líderes eleitos.

Alegre, não propõe um posicionamento da almejada esquerda face ao problema essencial, o maior e mais fascinante desafio da esquerda moderna que proporciona o regresso da política, dos grandes debates decisivos para a regulação da globalização, que acabe com a especulação financeira descontrolada e a exploração das desvantagens da pobreza por asfixia da OIT que deixou de cumprir o papel para que foi criada, sem lugar nas decisões opacas e não democráticas da OMC (Organização Mundial do Comércio) totalmente controlada pelos países ricos, que tornou o mercado global, sem regulação mundial, inseguro e imprevisível, não augurando nada de bom para o futuro próximo.

A esperança na Europa reside numa esquerda capaz de dialogar com as demais famílias políticas Europeistas, que a CIP filiada na UNICE também dará o seu contributo no diálogo social europeu, mais experiente e sólido que o nacional.

Todos teremos um papel que terá de ser coeso e solidário, para restaurar a confiança perdida neste mercado afundado em corrupção com a cumplicidade ultra liberal.

Que esquerda se espera num mundo sem fronteiras, que o derrube de Sócrates e a eleição de Ferreira Leite resolvam os problemas do país, desde que a ala radical tenha mais votos e novos líderes?

Quem quer ser responsável pela destruição da Constituição, sólido pilar do Regime Democrático que só o PS forte, está em condições de preservar.

Devolvo a Alegre o anátema da Dante se tomar a decisão de fracturar e destruir o Partido Socialista, a que dei os melhores anos da minha vida e ao seu serviço quase morri.

Viva ainda, apesar de hemiplégica, darei combate total e exigirei respeito, pelo PS plural, pelo trabalho de milhares de militantes de gerações anteriores e actuais que desejam muito o regresso do debate, mas não pouparão os responsáveis pela sua destruição numa fogueira de vaidades de egos desmesurados.

Fraternas saudações, a todos os Socialistas tão preocupados quanto eu, na convicção de que quem ama o nosso enorme património, está sempre disponível para agregar e não para dividir.

21/05/10

Europa Gorda

Por: Miguel Freitas
Deputado do PS


Na decisão política, o modelo europeu é muito lento e demasiado burocrático


A Europa está gorda. Obesa. A precisar de tratamento. Descobriu agora? Não, há muito que se via. Mas apesar de se ver, pouco fez por melhorar. Tinha crises, mas passava. Tentou mudar. Poucas, muito poucas vezes de forma determinada. Agora, só tem um caminho: fazer exercício e uma dieta rigorosa. Senão, um dia estará a pão e água.

Dizem que tem a ver com o “processo histórico”, com o modelo europeu, com o envelhecimento das suas gentes, com a falta de liderança. Um pouco com tudo isso. Certamente.

É uma Europa que se endividou para manter níveis de vida que já não pode ter. Uma Europa, ou pior do que isso, vários centro de custos, sem uma estratégia comum, com cada vez menos crédito no mercado financeiro. Uma Europa com uma moeda Única, mas sem uma governação económica. Criou um fundo de estabilização in extremis, que veremos ao que chega. Algum exercício se fez. Mas é muito pouco.

A mudança estrutural na economia mundial não lhe é favorável. Níveis de produtividade mais baixos, níveis de crescimento mais baixos. Não por questões de trabalho, mas de eficiência colectiva. Por via da terciarização da economia, com prevalência nos serviços não transaccionáveis. As fábricas do mundo já não são aqui. O tempo de reajustamento é medonho. A globalização torna a concorrência desigual. Perde-se mercado, fecham-se empresas. Cresce o desemprego. Perdem-se direitos sociais.

A estratégia de Lisboa foi sendo adiada. Há uma nova estratégia revista para 2020. Objectivos genéricos, pouco precisos. A questão energética é encarada de forma tímida. Mais por via ambiental que de segurança. As questões de segurança são, aliás, muito comentadas, mas pouco interiorizadas nas políticas.

Na decisão política, o modelo europeu é muito lento e demasiado burocrático. A nova arquitectura trouxe ganhos de participação, mas aumenta o tempo de decisão. Num momento em que a eficiência prevalece, temos de admitir que o tempo tem custos. Além disso, há uma voragem regulamentadora e alguma falta de coragem de assumir decisões difíceis.

O modelo social quer ser justo, promover a educação e a saúde para todos, defender o trabalho, garantir a velhice. É o grande repositório dos valores europeus. Mas tem de se adaptar a novos tempos. Tempos de restrições orçamentais. Tempos de repensar funções do estado. Não apenas na qualidade, mas também na intensidade das respostas públicas.

A Europa não vai acabar. Mas tem de fazer reformas. Tem muitos exercícios a fazer. Para se fortalecer. Não tanto para salvar o mundo, mas para continuar a ter um papel no mundo.
Acácio Pinto
Deputado PS




Ziguezague do PSD

O problema surge quando um partido político com a responsabili­dade do PSD não tem um rumo claro [...] sobre uma questão tão importante como são as obras públicas



Com a ascensão à liderança de Pedro Passos Coelho pensámos que o ziguezague tinha sido banido do seio do PSD. Tinha chegado um novo líder e com ele uma linha de rumo clara, transparente e objectiva.

Pensámos que tinha terminado a diversidade de posições a que fomos sujeitos nos últimos anos. Eram as opiniões dos barões, dos candidatos, da líder e dos ex-líderes.

Afinal, rapidamente, aquilo que foi uma vitória esmagadora de Pedro Passos Coelho e de uma encenação de união com a expectativa de que o rumo agora era claro e uno acabou por se esboroar passado um escasso mês sobre o Congresso.

Falo, obviamente, de obras públicas. Falo do investimento do Estado em obras decisivas para o futuro do país e para a competitividade dos territórios.

E se as posições divergentes são legítimas em política, se os pontos de vista e as estratégias são diferentes, não vem daí nenhum mal ao mundo. O problema surge quando um partido político com a responsabilidade do PSD não tem um rumo claro sobre esta matéria, não tem uma estratégia linear sobre uma questão tão importante como são as obras públicas.

Por um lado, Pedro Passos Coelho escreveu, recentemente, no livro que editou durante a campanha interna a líder que o aeroporto “deve avançar de acordo com o calendário previsto” e o TGV “deve prosseguir na medida em que permita a ligação à rede de alta velocidade espanhola e europeia”, mas, já esta semana, Miguel Relvas, secretário-geral do PSD, afirmou que “o Governo deverá suspender imediatamente todas as grandes obras públicas anunciadas”.

Ora aqui está como as coisas acontecem ao sabor dos ventos e conforme alguns comentadores da praça vão discorrendo sobre esta matéria.

E como se tudo isto não chegasse, são agora as distritais do PSD também a falar. Mas a falar para aplaudirem as obras públicas lançadas pelo Governo. Refiro os casos da distrital do PSD de Leiria que em comunicado se congratulou com a finalização do contrato de concessão do Pinhal Interior, dizendo mesmo que o projecto representa uma oportunidade de recuperação económica para a região.

Mas sobre esta mesma concessão (Pinhal interior), o deputado do PSD Miguel Frasquilho afirmou à TSF que o avanço da construção da auto-estrada Pinhal Interior é “um sinal negativo” por parte do Governo.

Já sobre a auto-estrada Viseu Coimbra e IC12 que o Governo tem em curso é o PSD de Viseu e dos concelhos limítrofes a clamar pela sua realização e mesmo a aprovarem moções e a efectuarem declarações nas assembleias municipais para que as mesmas (e outras) avancem a toda a força, quando na Assembleia da República os deputados do PSD as contrariam.

Depois temos ainda o Presidente da República a dizer que os investimentos públicos devem ser repensados e temos agora uma brigada de economistas zeladores do bem comum que querem também entrar no jogo político pedindo para serem recebidos por Cavaco Silva para se manifestarem contra as obras públicas.

Enfim, cenas políticas de um profundo desrespeito pelos resultados eleitorais e pela legitimação democrática de que o governo está investido.

Em tudo na vida há limites. E também na política devia haver limites para a decência e para o decoro!

Este é um combate que vale a pena travar! A economia e o emprego exigem a nossa disponibilidade para este combate.

A MATILHA

Por Luís Nazaré
Economista

A matilha

A debilidade dos mecanismos de solidariedade financeira no seio da zona euro é real e notória. Sem esses dispositivos, qualquer crise num Estado-membro pode conduzir à ruptura do sistema

Está à vista de todos – o euro está a sofrer um ataque feroz, o mais violento de que há memória desde a sua criação. A coligação de interesses especulativos e antieuropeus vive momentos de indisfarçável felicidade perante as dificuldades do Velho Continente, embora receie o efeito de ricochete sobre o sistema financeiro norte-americano. Só assim se explicam as chamadas telefónicas de Obama para Merkel, apelando ao empenhamento alemão na resolução do problema grego.

Recordemos que a actual crise económico-financeira se desencadeia a partir dos Estados Unidos com a chamada bolha do subprime (excesso de crédito hipotecário concedido pela banca + risco elevado + ganância dos agentes de mercado + desinformação dos consumidores), a que se sucede a falência do banco Lehman Brothers. A partir daí, num efeito-dominó, a crise alastra à banca europeia, pondo a nu as fragilidades do sistema bancário, o descontrolo das contas públicas de alguns países e a ausência de mecanismos europeus de solidariedade financeira para a defesa da sua moeda e dos momentos mais difíceis dos seus estados-membros.

As situações de incumprimento nos Estados Unidos estão longe de ser raras. Muito recentemente, o estado da Califórnia esteve à beira da bancarrota. Há algum tempo atrás, o mesmo tinha acontecido ao estado de Nova Iorque e a outros. A diferença é que nos Estados Unidos as instituições federais estão lá para actuar sempre que é preciso, assegurando a coesão do sistema. Na Europa, falha de mecanismos federais, o mesmo não acontece. E assim o efeito-dominó alastrou.

Primeiro, houve que salvar a pele de alguns bancos – entre os quais os portugueses BPN e BPP –, à custa de centenas de milhares de milhões de euros. Podemos legitimamente perguntar-nos se o esforço valeu a pena, para quem passou anos a fio a enganar os consumidores e os aforradores. Mas é bem possível que as consequências tivessem sido bem mais devastadoras se não o tivéssemos feito. Depois, sobreveio a crise das contas públicas de alguns estados-membros da zona euro.

A Grécia, que passou demasiado tempo a iludir as estatísticas e a fazer de cigarra, transformou-se no detonador por que os especuladores internacionais ansiavam. Os riscos de incumprimento da sua dívida pública abriram as portas da jaula onde as agências de rating e os especuladores mais vorazes se encontravam – exactamente os mesmos que haviam pactuado escandalosamente com as práticas mais obscenas das instituições financeiras que provocaram a crise. “O comportamento de rebanho dos mercados é, na verdade, de matilha – uma matilha de lobos” – afirmou, com notável a-propósito, o ministro das Finanças sueco na cimeira do fim-de-semana passado.

Ainda mais contundente tem sido o prémio Nobel Paul Krugman na sua denúncia das práticas especulativas dos “mercados” e, em especial das agências de rating, que acusa, sem papas na língua, de práticas de corrupção passiva. É bom recordar que as três grandes agências de rating mundiais, aquelas que classificam a seu bel-prazer a qualidade das dívidas empresariais e nacionais, são norte-americanas de berço e enfermam do preconceito antieuropeu comum nos Estados Unidos (e um pouco também no Reino Unido). Para elas, a dívida dos países do sul é duvidosa, a dos anglo-saxões segura. Para elas, o dólar é o refúgio certo, o euro uma ameaça.

Seria incorrecto, porém, assacar todas as culpas da crise do euro às malvadezas dos especuladores. A debilidade dos mecanismos de solidariedade financeira no seio da zona euro é real e notória. Sem esses dispositivos, qualquer crise num estado-membro pode conduzir à ruptura do sistema. Hoje é a Grécia. Amanhã poderá ser a Irlanda, Portugal ou a Espanha. Num futuro não muito longínquo, o Reino Unido ou mesmo a França.

Por isso, o Conselho de Ministros das Finanças da União Europeia decidiu, no passado fim-de-semana, criar um Fundo de Estabilização Financeira, que contará com uma dotação de 750 mil milhões de euros, numa tentativa de estancar os ataques à moeda europeia. Este fundo permitirá acudir, no limite de 60 mil milhões de euros, aos países em dificuldades, em troca da adopção de políticas financeiras austeras. É uma boa notícia, embora o seu efeito tranquilizante sobre os mercados financeiros não esteja ainda adquirido. Outra boa notícia é a criação de um novo mecanismo, dotado de 440 mil milhões de euros, destinado a socorrer países com dificuldades na balança de pagamentos, através de garantias fornecidas pelos países da zona euro, na proporção das suas participações no Banco Central Europeu.

Mas não tenhamos ilusões: com mais ou menos agências de rating, mais ou menos especuladores, Portugal tem de disciplinar as finanças públicas, reduzindo a sua despesa corrente, aumentar os níveis de poupança das famílias e estimular a competitividade do tecido económico. Uma equação difícil de resolver, mas para a qual os portugueses saberão encontrar a resposta certa.

20/05/10

Da professora toda despida

Da professora toda despida e desta apagada e vil tristeza
que nos veste a todos…





cheias em mirandela


Escrito por Jorge Castro

Mirandela resolveu rivalizar com Bragança. Pelo menos na sanha pseudo moralista com que fez cair o gládio das virtudes balofas em defesa da «honra e integridade da Pátria», desta feita sobre uma professora de música que decidiu posar nua para a revista Playboy.


O director do Agrupamento de Escolas da Torre de Dona Chama, clarinho como a água de tanta ribeira poluída deste País, nos afiançou: "Aparecer numa revista sem roupa não é compatível com a função de professora e de educadora". E daí a anunciar a rescisão do respectivo contrato foi um ápice


E logo sequenciado por pudibunda e pressurosa vereadora que de pronto retirou a senhora da escola e catrafiou-a num arquivo, a bem da moral e dos bons costumes, quiçá ao abrigo dos olhares concupiscentes, protegendo-a a ela da gula dos concidadãos e aos concidadãos do pecado da gula (para além de outros menores, claro). Fica-me, confesso, a inveja dos bichinhos-de-prata, useiros e vezeiros nestas coisas dos livros e papéis velhos e que poderão desfrutar à vontade de quanto ao comum cidadão foi sonegado…


Dir-se-ia que às folhas de pauta ganharam as folhas de arquivo e estou certo de que andarão, por Mirandela, muitas vocações musicais em desespero de causa… e de efeito.


Eu poderia imaginar que alguém criticasse, à professora, o mau gosto de posar em tal publicação – que, ainda para mais, me constou que paga mal aos seus modelos.


Posso, até, imaginar, o insólito e inusual rebuliço que fervilhará na terra, onde toda a gente se conhece, e a onda de criatividade que deverá estar a assolar as mentes jovens e efervescentes.


Posso, ainda, desapreciar – sim, claro que já vi a revista! – o gosto da dimensão dos implantes mamários ostentados - ainda que, aqui, as opiniões seguramente divirjam...


Agora, criticar e – pior! – punir a senhora porque nas suas horas muito particulares fez do corpo o que muito bem entendeu e, ainda por cima, dentro da legalidade vigente, isso nunca me passaria pela cabeça.


Mas, não haja dúvidas, há cabeças por onde isso passa. Passa e fica, que dali nem se espera grande movimento. Mas como mandam em qualquer coisa, uma vez por outra lá têm de mostrar que estão vivos – conceito duvidoso, no caso, e carenciado de melhor análise – e lá mandam bojarda aos ventos.

19/05/10

Abertas Candidaturas a Apoios de PME


Avisos para Apresentação de Candidaturas SI QUALIFICAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DE PME


Está aberto concurso para apresentação de candidaturas no âmbito do SI QUALIFICAÇÃO E INTERNACIONALIZAÇÃO DE PME até ao próximo dia 18 de Junho. Os avisos para apresentação de candidaturas referem-se ao:

- SI QUALIFICAÇÃO - PROJECTO INDIVIDUAL - AAC/01/SI/2010
1. Prazos para a Apresentação de Candidaturas
Entre o dia 12 de Maio de 2010 e o dia 18 de Junho de 2010 (24 horas).
2. Data Limite para a Comunicação da Decisão aos Promotores
10 de Setembro de 2010.
-SI QUALIFICAÇÃO - PROJECTO DE COOPERAÇÃO - AAC/01/SI/2010
1. Prazos para a Apresentação de Candidaturas
Entre o dia 12 de Maio de 2010 e o dia 18 de Junho de 2010 (24 horas).
2. Data Limite para a Comunicação da Decisão aos Promotores
10 de Setembro de 2010.
-SI QUALIFICAÇÃO - PROJECTO CONJUNTO (Internacionalização) - AAC/02/SI/2010
Saiba mais sobre a Abertura de Concurso para os Projectos Conjuntos (Internacionalização), no âmbito do SI Qualificação de PME.
1. Prazos para a Apresentação de Candidaturas
Entre o dia 12 de Maio de 2010 e o dia 18 de Junho de 2010 (24 horas).
2. Data Limite para a Comunicação da Decisão aos Promotores
10 de Setembro de 2010.

Para mais informação, consulte www.incentivos.qren.pt ou o Gabinete de Apoio ao Investimento e Iniciativa Turística da Turismo do Alentejo, ERT: maria.macedo@turismodoalentejo-ert.pt, roberto.grilo@turismodoalentejo-ert.pt, teresa.moreira@turismodalentejo-ert.pt , 284313542, 266777392, 245302012.
Aproveitamos a oportunidade para informar que irá decorrer no dia 27 de Maio, em Évora, uma Sessão Informativa da qual daremos conta nos próximos dias.
Com os melhores cumprimentos,
O Presidente da Turismo do Alentejo, ERT
António José Ceia da Silva
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17/05/10

Fátima 2010

ROCK IN FÁTIMA
Escrito por Pedro Laranjeira

Rock in Vatican

FÁTIMA 2010

... o Calvário Dourado de Bento XVI


Patrocinador Principal: povo português


Não sendo religioso, sempre achei que as religiões eram valiosas, por incentivar à prática do bem, em detrimento do exercício do mal.


Com mais ou menos tolerância, apontam-nos como irmãos, aconselham o perdão, definem e condenam o pecado.


O que é bom.


São uma linha de orientação que conduz os seus fiéis a um caminho que, às vezes, a sociedade falha em tornar desejável. Onde, às vezes, falha a família, a escola, a própria lei…


Mas… (se eu fosse religioso era aqui que diria mesmo “pelo amor da Santa!”) não exagerem, sejam sensatos, sejam humildes e comedidos. Não percam o sentido das proporções!


Eu sei que vivemos num mundo americanizado.


Assisti à transformação do desporto num grande circo mediático, testemunhei a passagem de Woodstock aos mega-concertos dos dias de hoje, percebi o uso da espectacularidade como psicologia de massas…


… mas há limites!...


A visita de Bento XVI a Portugal, que até tem tido momentos lindos, que até revelou um sumo-pontífice mais simpático que se julgava, está a ser um exagero que raia as fronteiras do condenável.


Não contesto a protecção de segurança que o país lhe deve, quer como líder religioso quer como chefe de estado, mas pergunto a mim próprio quanto é correcto e quanto é exagero.


Nunca uma operação desta envergadura foi montada em Portugal, nem mesmo para o Presidente dos Estados Unidos e, esse sim, tem mais inimigos perigosos que o Papa.


Parece estar a perder-se o espírito cristão em que a Fé se baseia.


Toda a visita tem o formato de um mega-concerto em que a estrela principal é um dos mais importantes homens do mundo e se explora como tal, com seu pleno consentimento. Nada ficou esquecido, nem o merchandizing… até os Correios vendem bandeiras de Bento XVI.


Para quem conhece a doutrina da Igreja, o homem que começou tudo isto era pobre e humilde. Agora entra-nos em casa a transmissão da eucaristia com um grande plano da mão direita do seu representante na terra a ostentar um pesado anel de ouro enquanto pega num cálice de igual calibre que simboliza o receptáculo do sangue de Cristo.


Se é verdade que vivemos numa época em que a maior parte dos nossos exemplos nos chega através de fantasia mediatizada, aprendamos ao menos a lição do Indiana Jones, onde, perante a necessidade de escolher entre dezenas de cálices qual teria sido o de Cristo na última ceia, é explicado que nunca poderia ser um dos cálices em ouro cravejados de pedras preciosas, mas sim o de madeira tosca, pobre e simples, “o cálice do filho de um carpinteiro”.


Perante a dimensão do exagero e quando se fala nos 75 milhões de euros, é constrangedor ter que ouvir comentar, como eu ouvi, que “o calvário percorrido pelo homem que Bento XVI representa na terra deve ter custado menos dinheiro… e, pelo contrário, custou a vida ao seu caminhante”…


As próprias vestes com que a Igreja nos mostra os seus pilares não são as do pescador que a fundou.


Mas é assim que nos chega. Grandes portugueses, como é o caso do padre António Rego e da jornalista Fátima Campos Ferreira são postos ao serviço do grande espectáculo, para que seja perfeito – e é!


O país pára, como vai acontecer durante o Mundial da África do Sul.


Mas não é a Fé que ganha, é o Espectáculo.


Não era preciso. Ghandi foi prova disso!


Os pastorinhos também, incluindo a irmã Lúcia, até à hora da sua morte.


Como alguém disse na televisão, “ser pobre por imposição é quando não se tem remédio, mas a Igreja deveria ser pobre por opção e ajudar os desfavorecidos a libertar-se da sua pobreza”.


A doutrina parece ser para quem é mandado cumpri-la, não para quem a faz - e deixou há muitos séculos de ser a que Bíblia ensina.


O próprio desempenho dos personagens é questionável. Portugal recebeu Bento XVI como líder religioso, mas recebeu-o também como Chefe de Estado e como tal lhe prestou honras.


Como pode então compreender-se que, publicamente, se tenha vindo manifestar contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo?


Independentemente de quem tem razão!


A própria Ministra da Saúde, generosamente, comentou que “já se sabia, não é novidade nenhuma”, mas… o Chefe de Estado do Vaticano fê-lo num país que recentemente legislou sobre essas matérias. Isto, se não é uma indelicadeza em casa de quem o recebe com honras e carinho, aproxima-se perigosamente dos limites da ingerência nos assuntos internos de um Estado Soberano.


Estão as águas todas misturadas!


Mas voltando à dura realidade que regressará às nossas vidas quando Bento XVI for embora: nestes dias de sofrimento e dificuldades, em que vamos sendo entretidos com espectáculos mediáticos que vivem da exploração da Fé de quem a tem, quem sabe a doutrina e segue muito religiosamente os seus princípios … é o Governo.


Permitimos que nos esbofeteasse, estamos agora a dar-lhe a outra face!

Sócrates disse a verdade ao Parlamento


Primeiro ministro - questionário e respostas

Sócrates mantém que disse a verdade ao Parlamento

O primeiro-ministro reafirma que disse a verdade ao Parlamento quando afirmou não ter sido informado da tentativa de compra da TVI e observou que a comissão de inquérito recolheu "prova abundante" de que nunca mentiu.

"Como é patente, ao fim de semanas de inquirições esta comissão não recolheu um único testemunho conhecedor dos factos, um único documento preparatório do negócio ou qualquer outro elemento de prova que contraditasse aquilo que já afirmei ao Parlamento - pela razão simples de não ser possível provar o que não aconteceu", afirmou o primeiro ministro, na declaração inicial que antecede as respostas às 74 perguntas dos deputados.

No documento José Sócrates afirma que mantém, "por ser verdade", tudo o que disse no plenário da Assembleia da República no dia 24 de Junho de 2009.

José Sócrates recordou as suas palavras nesse dia: "O Governo não dá orientações, nem recebeu qualquer tipo de informação, sobre negócios que têm em conta as perspectivas estratégicas da TVI".

"Para além dos sentimentos, das convicções e das opiniões de uns quantos adversários confessos do Governo, sem nenhum conhecimento dos factos concretos do processo negocial - o que esta comissão recolheu foi prova, e prova abundante, de ser inteiramente verdade o que afirmei no Parlamento", considerou.

José Sócrates assinalou que "todos os intervenientes relevantes no processo negocial entre a PT e o grupo Prisa vieram confirmar" na comissão "sob juramento" que não tinham prestado ao Governo qualquer informação relativa ao negócio.

Confirmaram também, referiu o primeiro-ministro, que "não tinham recebido do Governo qualquer orientação" e que "a autoria da ideia do negócio nasceu no interior da PT".

O primeiro-ministro criticou os que "no interior da comissão" de inquérito "manifestaram ideias pré-concebidas", "antecipando conclusões antes de qualquer apuramento dos factos".

"Tão ostensivo é o propósito cego de alguns no sentido de instrumentalizarem este mecanismo parlamentar para atingirem pessoal e politicamente o primeiro-ministro e o Governo", considerou.

Objectivo da comissão de inquérito

A comissão de inquérito à actuação do Governo na tentativa de compra da TVI visa apurar "se o Governo, directa ou indirectamente, interveio na operação conducente à compra da TVI e, se o fez, de que modo e com que objectivos".

A alínea b do documento fixa ainda que o inquérito pretende "apurar se o senhor primeiro-ministro disse a verdade ao Parlamento, na sessão plenária de 24 de Junho de 2009", quando disse não ter sido informado da operação.

07/05/10


Ex Governadora Civil de Setúbal, Eurídice Pereira, galardoada
A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais atribui Prémio Prestígio 2009 a ex Governadora Civil de Setúbal, Eurídice Pereira

A ex Governadora Civil do Distrito de Setúbal, Eurídice Pereira, agora Deputada à Assembleia da República pelo Partido Socialista, eleita pelo Círculo Eleitoral de Setúbal, vai receber, na 8ª Grande Gala Prémios Prestígio 2009, no dia 29 próximo, no Cinema S. Jorge, em Lisboa, o Prémio Prestígio 2009.

De acordo com comunicação da Associação, “Em reunião do Concelho Geral ( Direcção Nacional, Secretariados Regionais de Lisboa e Vale do Tejo, Norte, Centro...

jantar convívio dos socialistas do distrito de setúbal

Forte mobilização e ambiente animado foram as tónicas das comemorações dos 36 anos de Abril e do 1º de Maio.

Mais de 3 centenas no Jantar/Convívio

A Federação Distrital de Setúbal organizou no dia 1º de Maio, Dia do Trabalhador, um jantar convívio, no Palácio dos Antónios, na freguesia da Charneca da Caparica, em Almada.


Presentes muitas individualidades políticas do distrito. Entre elas: Governador Civil Macaísta Malheiros; Vitor Ramalho, presidente da Federação do PS; Deputados Joel Hass Ferreira, Catarina Mendes, Euridece Pereira, Alexandre Rosas, Eduardo Cabrita; Catarina Marcelino; Fátima Lopes, presidente da Segurança Social, Paulo Pedroso ex Ministro, Pedro Marques actual Secretário de Estado da Segurança Social.

A leitura de poesia (a primeira foi de Manuel Alegre) por militantes socialistas – Luís Chula, Natividade Coelho e José Chocolate - marcada pelo simbolismo do dia , intercalaram com as intervenções de sindicalistas e dirigentes da UGT e da CGTP-IN, que realçaram o ideário do PS, na manifestação de sensibilidades plurais. Unidos no essencial, Carlos Trindade e Fernando Jorge, este último, também Presidente da Junta de Freguesia anfitriã, exaltaram o papel e a importância dos sindicatos na consolidação do processo democrático.

Paulo Pedroso, ex-Ministro do Trabalho e actual vereador do Município e Almada e Pedro Marques, actualmente Secretário de Estado da Segurança Social, António Mendes, Presidente da Concelhia de Almada, Catarina Marcelino, deputada e Presidente do Departamento Distrital das Mulheres Socialistas, Pedro Ruas, Presidente da Federação Distrital da Juventude Socialista e a encerrar, Vitor Ramalho, Presidente da Federação Distrital do PS -, manifestaram , em suma, que o essencial exige, face à complexidade da crise internacional, respostas firmes e claras, incompatíveis com o populismo da esquerda ortodoxa ou da folclórica, mas, também, da demagogia da direita. Daí a necessidade de um outro olhar para este novo mundo e crise, particularmente no Ocidente, que deve merecer da UE -União Europeia políticas concertadas que dissuadam a ganância da especulação financeira contra o euro e não façam enfraquecer o papel dos Estados e, nestes, do investimento público. Estes objectivos devem ser articulados com o próprio aprofundamento da EU e do auxílio à Grécia, que é dela parte integrante.


Sustentaram, ainda, os oradores a defesa de quem trabalha ou de quem sofre, agora, as agruras do desemprego, inserindo estes objectivos nas causas de sempre do PS.

A terminar, Carlos Mendes, ao piano cantou do seu reportório principalmente Abril, terminando com "Grândola, Vila Morena”.que fez participar as mais de três centenas de presentes de pé e a uma só voz, ao jeito do hino nacional.

A iniciativa foi saudada por todos os intervenientes que agradeceram ao Presidente da Federação, Vitor Ramalho, o importante estimulo dado pela Federação nas comemorações. Estas iniciativas são novas no PS Setúbal.

05/05/10

O Povo Português não gera Revoluções


Escrito por António Justo




REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL:


UMA HISTÓRIA MAL CONTADA


O Povo Português não gera Revoluções


As revoluções portuguesas são como a ponte de Lisboa. Antes do golpe de estado chamava-se “Ponte Salazar” depois passou a chamar-se “Ponte 25 de Abril”. Apenas mudam a fachada e a lata. O povo, tal como o rio Tejo, cansado de inúmeras voltas e de tantos despejos, sempre pacífico e adaptado, tem permanecido igual a si mesmo, ao longo da História: vagaroso mas internacional.

De época para época, alguns insatisfeitos do sistema, os filhos dos senhores do regime, provocam um golpe de estado, apoderam-se dele e mudam-lhe o nome. Povo e golpistas conhecem-se de ginjeira: aquilo a que dão o nome de revoluções, pouco mais se trata do que da troca de nomes, dum acerto de contas e de acomodação à história dos vizinhos; o mérito do acontecimento está em dar ocasião à necessidade do povo festejar e aplaudir ou, quando muito, resolver alguns deveres de casa esquecidos. Os actores sabem que a injustiça não é boa mas a justiça seria incómoda. Optam então pela vida dos “brandos costumes” sem a preocupação de fazer justiça.


Arranjam um nome monstro para justificarem as suas acções e branquearem as suas intenções. No caso do 25 de Abril, um grupo de cretinos aplicou ao regime autoritário de Salazar o nome explosivo de fascismo, metendo-o (internacionalizando-o) assim no mesmo rol de Franco, Mussolini, Hitler e Pinochet. Então, a nação inteira passou a dar-se conta do monstro e resolveu dar caça ao fantasma. Este vai recebendo cada vez mais atributos até que passa de lobo a Minotauro. A partir deste momento o povo perde a ideia passando a viver do medo do labirinto. Entretanto vão surgindo alguns lobitos e o povo vai distraindo o medo no “Jogo ao Lobo”!


O país da Europa com as maiores desigualdades sociais entretém-se em argumentações opiniosas deixando as coisas importantes para os nomes engordados em nome das classes desfavorecidas. Já habituado à humilhação e à atitude governativa arrogante e distante, o povo servil, filho da “revolução da liberdade” até aceita a censura em nome da democracia. O estado português já há séculos não tem povo, chega-lhe a população. A população já há séculos que abdicou de o pretender ser, contentando-se em viver na sombra da Face Oculta do Estado. Deixou o palco da nação aos dançarinos do poder!


O 25 de Abril passou – A Revolução está por fazer
Golpistas abusam do Nome Revolução


Com o golpe de estado de Abril, o regime autoritário é acabado no meio da guerra colonial. O povo português, o que quer é esquecer a guerra e os políticos o que querem é a confusão para se poderem organizar e não terem de assumir responsabilidade pela traição dos interesses da nação, dos retornados e do povo nativo. Segundo o reconhecido historiador José Saraiva, o abandono das províncias ultramarinas constituiu “a página mais negra da História de Portugal”. Disto não se fala; reduz-se a história a folclore e a governação ao jogo do rato e do gato…


O 25 de Abril assenta em pés de barro. Fez um golpe de Estado e deu-lhe o nome de revolução. Os seus actores não pensavam em revolução. Foram surpreendidos pelos acontecimentos que eles próprios provocaram e alguns, entre eles, (especialmente Otelo S. de Carvalho) serviram-se do comunismo/socialismo para legitimarem e darem uma projecção histórica ao movimento dos oficiais descontentes. O 25 de Abril foi um golpe de Estado que surgiu de motivos pessoais e antipatrióticos de alguns, mas nunca uma revolução. O novo regime começou mal e com actos inglórios tal como acontecera na implantação da república. Mas disto não deve rezar a História, o povo precisa de festa e os governantes de distracção. Não importa viver, interessa é ir-se vivendo!


O programa MFA (Movimento das Forças Armadas) pretendia Democracia, Descolonização e Desenvolvimento. Os primeiros dois anos foram uma confusão maluca. Tudo era facho e qualquer jovem adolescente se armava em guarda de comícios, por vezes até de metralhadora na mão. Recordo que quem tinha um emprego bom, ou uma casa digna, logo era apelidado de “facho”, pelo povo gozador, num misto de atmosfera de inveja e admiração. Depois com a nova constituição tudo ficou camarada e irmão: camarada de facho na mão!


Os partidos, sem mérito, passam a viver do prazer de terem organizado as suas fileiras. Desfavorecem a politização do povo para fomentarem o partidarismo e um discurso público dirigido à conservação do poder.


Entretanto, o povo sente-se humilhado e deprimido; o seu sentimento de identidade definha, sendo compensado apenas no sentimento duma grandeza promissora dos irmãos da lusofonia e da madrasta União Europeia. O sentimento de identidade nacional baseado no cristianismo, na cultura nacional e na ideia das grandezas dos descobrimentos não agradam às novas elites internacionalistas. A má experiência do povo com a própria elite, sem sentimento de nação nem de povo, leva-o a sentir-se apenas como inquilino anónimo de alguns senhores da praça pública, dos canonizados da democracia. Sente-se filho de pai incógnito!


Portugal continua preso numa mentalidade de arrendatário de ideologias e senhorios mercenários que o povo tem de acatar para ir vivendo! Portugal, apesar de golpes de estado e de pseudo-revoluções, continua a sofrer na pele a experiência de outrora: a experiência dos ingleses senhores das quintas do vinho do porto que viviam na Inglaterra e tinham em Portugal os seus feitores portugueses a cuidar dos seus interesses. O Estado português tornou-se numa feitoria de alguns mercenários. Daqui vem a sabedoria portuguesa que, muitas vezes, diz: “isto é para inglês ver”.


As nossas elites intelectuais não são em nada inferiores às europeias. O problema está no seu individualismo e na sua falta de consciência de povo, e de espírito colectivo! As elites políticas vivem do nome, interessando-se, a nível de país, apenas por terem Lisboa, como sala de visitas de Portugal onde elas podem receber vaidosamente os amigos. Colaboram com um internacionalismo interessado em destruir as nações para depois poderem surgir como salvadores e implantar um governo mundial de burocratas e tecnocratas contra os biótopos nacionais.


O povo, antigamente, sofria sob a bandeira do trono e do altar; hoje sofre sob a lama das massas a toque de caixa partidária que segue o ritmo das multinacionais.


A grande diferença: Hoje o povo não se pode queixar, porque os seus opressores vêm do seu meio e parte deles são eleitos democraticamente.


Já Ovídeo escrevia nas Metamorfoses: “O destino conduz os de boa vontade e arrasta os de má vontade”. Com a celebração do 36° aniversário do golpe, já seria tempo de Portugal ir à cata dos de boa vontade!...


O aniversário do golpe de estado poderá deixar de ser um pretexto para se tornar numa oportunidade. Urge descobrir a nação e ter a vontade de se assumir como povo. O grande povo e a nação valente que “deu novos mundos ao mundo” tem-se manifestado incapaz de se descobrir a si.


Um Estado é como uma planta. Se adoece, os parasitas cobrem-na facilmente. O país tem-se modernizado; não tem inimigos nem ódios mas encontra-se apático e doente. Depois do golpe de Estado, o fanatismo republicano e o oportunismo continua a tradição da “apagada e vil tristeza” dum conservadorismo míope e dum progressismo cego! Os cães de guarda do Estado contentam-se em morder e em ladrar alto e o rebanho atemorizado lá se vai movendo no respeito à própria lã que vê nos dentes deles!


Acabe-se com o louvor do golpe e dos golpistas. Não notaram ainda que a revolução se encontra, desde há séculos, por fazer! Para nos levarmos a sério teremos de descobrir primeiro o povo e a nação. Então seremos capazes de enfrentar as desgraças históricas, sejam elas progressistas ou conservadoras. Há que aceitá-las, para nos podermos mudar e assim mudar o rumo português para o bem-estar de todos, nacionais e estrangeiros. Para isso precisam-se mulheres e homens adultos! “O povo unido jamais será vencido”, cantam as sereias, na certeza de que ele se embala na música e não se descobre como povo! Não vale a pena o queixume. Quem se queixa é pobre ou não pode! Trata-se de mudar mudando-se! A nação precisa de todos.