24/03/10



A Crise no Portugal do inicio de 2010 - Parte II

Como Socialistas não temos de ter receio de assumir um papel dirigista na sociedade.
Está de acordo com a nossa ideologia e o liberalismo actual já provou à saciedade a sua
incapacidade em encontrar soluções para os problemas que ele mesmo criou.

Não devemos tambem interiorizar cegamente a “liberalização dos mercados” como
um dogma. Se pode ser justo aplicar o principio em matérias-primas, alimentos e
alguns produtos até como forma principal de ajuda ao desenvolvimento, já não o é em
produtos fabricados exatamente pelos empresários que tantos problemas nos
causaram com a deslocalização e agora defendem (claro) o “liberalismo” contra o
“proteccionismo”.

Portugal só se desenvolveu realmente quando teve estratégias crediveis, capacidade e
vontade para as implementar. Foi assim com os Descobrimentos e o Marquês de Pombal.

Portugal pode aproveitar esta situação dificil para liderar o rumo estratégico dos Países
pequenos mais desenvolvidos e a manutenção do seu Estado Social face aos desafios
de uma globalização económica que pouco ou nada pode influenciar.

A Recuperação tem de ser um designio nacional mobilizador conduzido sem hesitações
por lideres fortes e determinados. É a sua ( nossa ) ultima oportunidade democrática.

A definição dos eixos dessa estratégia tem de gerar um grande consenso e mobilização
nacionais. Tentar fazê-lo apenas com os actores politicos habituais será um erro colossal.

A primeira tarefa tem de ser saber qual é afinal o tecido económico português por
sectores (incluindo sector publico central e autárquico e informal), sua capacidade
exportadora e competitiva, dimensão, trabalhadores, empresários etc. A maior parte dos
dados existem no INE, há sobretudo que os ordenar de acordo com os objectivos.

A segunda é definir quais os sectores mais estratégicos para o desenvolvimento nacional
que deve ( tem de ) ser feita com os parceiros sociais, individualidades de reconhecido
mérito empresarial ( Belmiro, Amorim, Henrique Neto, Roquette, etc.etc.etc ) e obviamente
governantes e lideres da oposição. Uma espécie de “Conselho de Crise” permanente
pois terá sempre de monitorizar os resultados e/ou corrigir o rumo. Aqui o maior
erro que se pode cometer será convidar os “yes-men” ou a claque do costume a participar.

A terceira será obviamente legislar de acordo e bem em todos os campos que forem
considerados necessários em consonância com o decidido,. Uma forte mobilização
nacional em torno destes objectivos será certamente necessária. Prevejo que para se
obterem os necessários resultados a curto prazo será necessária uma politica do tipo “um
País, dois sistemas”,descriminando positivamente o que interessa.

A muito curto prazo a punição exemplar dos autores das várias fraudes em investigação
é absolutamente necessária para restabelecer a confiança dos portugueses no sistema.

No imediato e para combater o desemprego as acções têm, a meu ver, de ser mais ousadas:
Para licenciados, dado o seu numero e qualificações, para alem das já existentes há que os
enviar como cooperantes para os Palop`s. Serão muito bem aceites e, com uma pequena
formação adicional, certamente poderão pelo menos leccionar português. Muito poucos
Países no Mundo terão as facilidades de Portugal neste campo e está amplamente
provado que o efeito multiplicador destas medidas para o País “emissor” são sempre
interessantes; Para os menos qualificados, não-qualificados e do rendimento minimo, com
o empenho e enquadramento dos Municipios, certamente que entre ajudar a fazer o
cadastro dos 20% do território nacional que não se sabe de quem é, recuperar e pintar casas
e imóveis degradados, recuperar fábricas e equipamentos abandonados, limpar matas e
praias, vigilância de incêndios e no nosso caso de Setubal até restabelecer a industria das
ostras ( fortemente empregadora ), etc., seria possivel obter resultados interessantes.

António Jardim

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