29/11/08

O mundo pós-crise

Luís Nassif

O primeiro é a constatação da mudança radical sobre o papel dos Estados Unidos no novo mundo. Ao contrário da Inglaterra, a grande hegemonia americana foi conduzida por suas grandes corporações, especialmente em três sectores, a mineração-siderurgia, a indústria automobilística e o sector financeiro.

Coube a elas espalhar o poderio americano pelo mundo, os hábitos empresariais, a influência política. A diplomacia americana quase que caminhava atrás, respaldando suas acções.

Com o tempo, essa expansão levou à perda da identidade nacional, dos vínculos com o país. A expansão levou-as a privilegiar a produção de manufacturas na Ásia. Especialmente na China. Com o tempo, as linhas de produção foram transferidas para lá, reduzindo o potencial de emprego norte-americano.

Os ganhos eram na forma de dividendos recebidos e na expansão das instituições financeiras.

Nas décadas passadas, os EUA perderam a primazia da mineração e da siderurgia. Desde o começo da década, a primazia do sector automobilístico. Problemas trabalhistas em Detroit, erros de avaliação sobre os novos modelos (com alto consumo de combustível), fizeram com que gradativamente seu espaço no mercado passasse a ser ocupado primeiros pelos japoneses, depois pelos europeus, finalmente, pelos coreanos.

A bolha da tecnologia segurou a expansão do sector de telecomunicações. Manteve-se o da indústria de software.

Nos últimos seis meses, caíram os últimos símbolos do predomínio americano, os grandes bancos de investimento que, desde o início do século 20 representaram a ponta de lança do poderio americano.

Não significa a decadência americana, mas o fim do predomínio absoluto. Obviamente há no país um estoque imenso de pesquisa, inovação, capacidade gerencial, ambiente favorável de negócios. Mas, agora, sob um mundo bem mais equilibrado.

Ponto importante nesse jogo é o novo papel desempenhado pelos emergentes. Tanto as montadoras quanto os bancos têm garantido que poderão abrir mão de subsidiárias em vários países, menos em alguns emergentes - como o Brasil.

Não se sabe como o mercado interno norte-americano emergirá da crise actual. Barack Obama já deixou claro que implementará um programa similar ao New Deal, de Roosevelt. Ou seja, prioridade para as pessoas físicas, para a geração de empregos, para a solução da inadimplência dos mutuários.

É um desafio ciclópico, o de unificar a nação em torno de bandeiras de solidariedade, já que os beneficiários do modelo anterior ainda mantém a influência política - como acontece em todo final de ciclo.

Mesmo assim, levará muito tempo até que o mercado interno americano recupere o dinamismo das últimas décadas - já que o motor principal, o crédito, ficou profundamente avariado.

Significa que, quando a economia mundial começar a mostrar sinais, ainda que ténues, de recuperação, o investimento preferencial das multinacionais será em grandes emergentes, como o Brasil.

O desafio é prender a respiração e chegar à outra margem do rio.

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