18/06/10

A pior crise desde a Segunda Guerra Mundial

Por: Euridice Pereira (deputada)

“O que tínhamos à nossa frente em 2008 e 2009 era uma crise mais grave do que a pior desde a Segunda Guerra Mundial”. Quem o afirmou foi o Presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claudet Tricket.

2009 foi ontem, não obstante hoje estarmos – Portugal está – sob uma intensa pressão. A agência financeira Standard & Poor’s, ainda há poucas horas, baixou a nota da dívida portuguesa, de forma inesperada e inaceitável, diga-se, promovendo o alarmismo nada recomendável nesta fase do processo de recuperação.

Ouvi a declaração conjunta do Primeiro Ministro, José Sócrates, e do líder do principal partido da oposição, Passos Coelho. Agradou-me.

A realidade é que, há cerca de 5 anos, o deficit herdado pelo anterior Governo socialista era elevado ( mais de 6%). Em cerca de 2 anos ( menos 1 do que o previsto) o plano governamental e o esforço dos portugueses conseguiram uma redução superior a 50%. Era, a seguir, tempo de consolidação. Nada feito. Eis a tal crise, “a mais grave do que a pior…”.

A resposta imediata do actual Governo situou-se, inevitavelmente, em minimizar os efeitos. A minimização, necessária, das repercussões da crise só podia contar com um aliado: o Estado. Foi necessário (e ainda é) responder, com dinheiro público, à ameaça de fecho de (mais) empresas, à vulnerabilidade das pessoas desempregadas, aos estados agudizados de pobreza,… Este foi um custo assumido. Não há lapso de cálculo. A solidariedade do Estado tem custos.

O deficit é o resultado do que os povos esperam de um Governo, em momentos difíceis: a presença na ajuda efectiva. É portanto hipócrita muita da crítica da classe política ao deficit. A pergunta que se impõe é o que seria dos portugueses se o Governo não tivesse agido. Se o deficit não fosse o que é.

Agora, sem tempo para respirar, é pedida – exigida – prova de que Portugal será capaz de cortar mais de 6% do deficit, até 2013. Os mercados estão aí, famintos.

O PEC- Programa de Estabilidade e Crescimento aprovado em Conselho e Ministros e validado, não há muito, na Europa, tem de ser implementado rapidamente. E sem tempo para que tivesse o seu início, e particularmente, sem tempo para que obtivesse os primeiros resultados, o País é objecto de pressão.

Mas, o PEC é, na óptica da exigência, para uns. exagerado, para outros, pouco!
Á esquerda do PS não se houve uma medida que contribua para a solução. Pelo contrário, qualquer referência feita representa mais despesa. Á direita, o PEC devia ser mais ‘agressivo’, é ‘ de menos’ e exemplifica-se como colaborar com medidas já contempladas ( ex: corte nas consultorias) ou outras de execução demorada, e , portanto, com reflexos imediatos nulos face à necessidade urgente de gerar confiança.

Dito isto, foi com bons olhos que vi o principal partido da oposição ‘ chegar-se à frente’ e dizer da sua disponibilidade em defender Portugal. Entendo que este é o caminho. A mobilização de esforços, que para os mais complexados há que dizer não significar perda de identidade, tão pouco perda de identidade ideológica, não é uma opção, é um dever.

O povo português, a quem, ciclicamente, são pedidos esforços tem o direito de exigir aos governantes e aos partidos da oposição que se entendam e que encontrem soluções. Estes têm o dever de responder em conformidade.

Por outro lado, este povo não é uma ‘carta fora do baralho’ na construção de alternativas, seja nas opções políticas orçamentais, sustentáveis e credíveis, seja na implementação de reformas estruturais consequentes. Mas, para isso, é fundamental que se sinta mobilizado. É imprescindível identifica-se com o caminho a percorrer e, especialmente, ter claramente identificado o destino final. Em suma, tem de ter consensualizada a meta.
O Governo tem de abrir a porta e ouvir, para melhor decidir.

A(s) oposição(ões), para se fazer ouvir, tem de ser consequente. Ser oposição não é ser a permanente voz do contra – e, por Portugal, tem de deixar de ser. Ser oposição é apresentar alternativas. Alternativas viáveis, o que implica dizer como e porque se faz, que custos acarreta, e que resultados se prevêem.

A guerra aos ‘predadores’ externos faz-se com concertação de esforços responsáveis. O encontro de hoje, entre PS e PSD, pode ser um grande sinal. Por Portugal. Pelos Portugueses.

A Deputada,
Eurídice Pereita

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