03/02/10

Crise. Mas, qual Crise?


Por Carlos Martins

Cá chegámos a 2010, atravessando as crises que há muito, talvez há décadas, se iniciaram com um decréscimo dos níveis das ideias, dos valores e dos pensamentos políticos que devem pautar a evolução do Homem e que foi minando todos os sistemas de funcionamento conhecidos, explodindo na área financeira, alastrando à economia, passando à organização social. Temos hoje um problema muito sério de desemprego, mais de 500 000 concidadãos e suas famílias sofrem o drama da insustentabilidade das suas vidas e continuamos ou regressámos a problemas conhecidos, como o descalabro do defeito das contas públicas ou o progressivo endividamento do País.

Dir-se-á que os problemas são globais e que a(s) crise(s) nos ultrapassam e que o controlo e a saída da dificuldade dos dias que passam exigem um esforço, um grande esforço do “mundo”. Dou por verdadeira e pertinente tal justificação, mas também entendo que temos de nos preocupar em encontrar soluções em nós próprios, dando importância à mudança e inovação que estão ao nosso alcance, por isso apelo à urgência de um regresso às ideias, aos valores, ao pensamento, à construção de um novo quadro de referência em que possamos crescer de modo mais sustentado.

Por isso volto ao tema, há crise ou crises, mas a verdadeira crise, ainda não está a ter a correcta terapia, superar a verdadeira crise implica alterar procedimentos, métodos e encontrar outras soluções que envolvam e motivem as pessoas.

Tentarei, com alguns exemplos, explicitar o que penso que deve ser assumido para que supere a crise já longa de modo a vencer as diversas crises que lhe estão associadas:

Nível dos Governos:
- aceitar e reconhecer a responsabilidade dos erros. Quantos governos e governantes assumem publicamente os erros que cometem? Ver o exemplo do Presidente Obama que face ao ataque falhado ao avião no Natal e à insegurança de aviões e aeroportos veio a afirmar “sim, eu sou o responsável”;
- não afirmar continuamente que “todo o mal é exterior” e “todo o bem” é serviço próprio e que face a alguma “aragem fresca” verificada na economia, logo se vê “o início do princípio (a redundância é propositada) do fim das crises”;
- não continuar a combater problemas sérios, no ambiente, nas necessidades das pessoas e das sociedades, sempre com a injecção de dinheiro – um problema logo vários milhões para resolver – em vez de envolver, motivar e fazer participar as pessoas, os cidadãos, em projectos com conteúdos e para o futuro que tem de ser construído connosco e com as nossas próprias mãos;

Nível das Forças Sociais:
- não actuar, como muito recentemente fez a EDP face às intempéries, desresponsabilizando-se, mostrando incapacidade e incompetência técnica em resolver com rapidez (estamos em pleno século XXI, na globalização e com toda a tecnologia disponível…) os problemas que afectaram um sector, as pessoas uma região do País, houve muito de arrogância e pouco esforço de solidariedade e de civismo;
- sindicatos, como os que actuam na Educação, que vão em mais de trinta pontos de exigências e reinvindicações (amanhã poderão ser quarenta ou cem), começando por contestar um qualquer tipo de avaliação, sindicalistas cujo o horizonte são os seus umbigos, pouco se preocupando com o essencial – o sistema educativo. Sim, há aqui uma crise a combater.

Nível dos Cidadãos, das Pessoas:
- cada um de nós que face à situação tão óbvia, não resistimos ao consumismo tão desenfreado, como desnecessário e que nos conduziu na última quadra festiva a bater todos os recordes de levantamentos de dinheiro ou de recurso a crédito.

É este o correr dos dias, são estas as crises e não a crise. Engana-se ou mal vai quem pensar que a retoma terá sucesso quando apenas um conjunto de indicadores na economia ou nas finanças passarem a ter um colorido mais esverdeado, quem em tal acreditar apenas estará a contribuir para o princípio da crise futura ou antes para dar continuidade uma crise que é permanente, há demasiado tempo, que é permanente.

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