03/10/08

A nova liderança do PSD contesta os grandes investimentos previstos para Portugal, mas não esboça propostas alternativas.

Por Joel Hasse Ferreira
Eurodeputado pelo PS


1- A nova liderança do PSD exibiu recentemente a sua falta de perspectiva e ausência de estratégia nos planos económico, social e financeiro. Contesta os grandes investimentos previstos para executar em Portugal, mas não esboça propostas alternativas. Parece ignorar que sem investimento não há crescimento económico e sem crescimento económico há perda de emprego. Quererá que o país se arruine, que o desemprego volte a crescer e que se voltem a desequilibrar as finanças públicas? Esses investimentos são imprescindíveis para maior comodidade dos cidadãos e para garantir uma maior eficiência da actividade empresarial, eliminando aspectos negativos do contexto infraestrutural. Reforçando também as ligações internas e as ligações aos outros países da Europa.

2- Por outro lado, sugere a nova liderança do PSD que se combatam as dificuldades sociais, apenas entregando mais dinheiro às organizações sociais. Ou seja, não têm nem pretendem ter uma estratégia de erradicação da pobreza e de combate efectivo aos problemas sociais existentes. A perspectiva assistencialista evidenciada pela nova liderança do PSD reflecte uma concepção antiquada da actividade económica, incompatível com o mundo actual. O papel das organizações sociais é relevante, mas quanto à estratégia de resolução das questões sociais, compete ao poder político defini-la. Depois da fusão de serviços públicos “ à martelada”, como em 2002, teríamos a distribuição de recursos “ à balda”.

3- Entretanto, no Parlamento Europeu, debatemos a erradicação da pobreza, a partir do relatório da eurodeputada grega Marie Panayotopoulos-Cassiotou. Silva Peneda, Ilda Figueiredo e o autor destas linhas tiveram oportunidade de intervir no Plenário, num debate que terá tido bastante acuidade e alguma profundidade..

4- A eventual perda de recursos atribuídos ou atribuíveis pela UE a Portugal é minimizada pela nova liderança do PSD, que acha bem cortar o investimento e financiar instituições sociais, sem definir como essas verbas se aplicam, nem dispor de uma estratégia social adequada. Com a aplicação dessa atribulada orientação antieconómica que balbuciam, lançariam de facto o país numa situação social grave, numa situação efectiva de alarme social. Aumentando o desemprego, voltariam a criar dificuldades grandes à Segurança Social, como fizeram de 2002 a 2005, descapitalizando-a.

5- Uma recente sondagem, com o PS em 40%, as forças ditas à esquerda do PS com um pouco menos de 20%, o PSD com 29% e o CDS com 6%, mostrou-nos uma direita entre 1/3 e 2/5 dos votos, sem condições para governar. Evidenciou também que se o PS terá cerca de 20% dos votantes à sua esquerda, o PSD terá cerca de 60% dos votantes também à sua esquerda

6- Será que a imagem de figura do Estado de Manuela Ferreira Leite e o seu perfil conservador lhe alargarão a base eleitoral? E para que lado? Ainda há muita água para correr debaixo das pontes. A menos que Cavaco deixe de actuar como Presidente e passe a ser mais um militante do Algarve. Mas não se pode exceder nas “mãozinhas” que dê à sua antiga colaboradora e ex-conselheira de Estado, se quiser ser reeleito, sem grandes dificuldades. Em qualquer caso, por ex. os autarcas do Centro (”laranjas” incluídos) parecem estar mais sensibilizados pelas acções de Paulo Campos do que pelos comentários de Aníbal Cavaco Silva em terras norte-alentejanas. Entretanto, o perfil severo e a intuição política de Manuela Ferreira Leite poderão dispensar uma tutela, ainda que discreta, do actual Presidente.

7- As questões energéticas assumem um papel decisivo na prospecção do futuro da Humanidade. No princípio de Setembro, os coordenadores de um estudo de cenários energéticos europeus para 2030 entregar-nos-ão os resultados da última fase desse estudo para ser objecto de debate, no mesmo mês, no Parlamento Europeu, por deputados interessados e por um conjunto de convidados. Estarão em cima da mesa, designadamente, questões ligadas à gestão energética dos edifícios e das cidades, aos automóveis, à redução do consumo de petróleo e de emissões de CO, às ligações com a problemática ambiental e às garantias de abastecimento energético da Europa.

8- Entretanto, o avanço muito significativo da produção de energia eólica em Portugal vai sendo cada vez mais referido em diversas instâncias europeias. É um bom sinal.

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