23/05/11

O QUE O PAÍS ESPERA DOS SOCIALISTAS

Os efeitos políticos, económicos e sociais decorrentes da crise que se vive à escala europeia e com óbvios reflexos em Portugal são muito profundos.

A U.E., fragilizada pela ausência de uma política mobilizadora e recriadora da esperança no futuro, ancora-se em propostas e soluções economicistas, possibilitando a abertura de brechas na sua própria arquitectura que a podem colocar em causa e com ela ao euro.

O facto de países como a Dinamarca colocarem em causa o espaço Schengen, depois da França e a Itália terem esgrimido razões por causa dele, a propósito de cidadãos originários de países árabes que se acolheram na Ilha de Lampdusa, não são casos isolados para sustentarmos o que afirmamos. Quando um jornal prestigiado como o Der Spiegel faz eco da eventual saída da Grécia do euro ou a Finlândia coloca entraves à ajuda a Portugal, para não invocar as reticências do Reino Unido, não estamos a falar da U. E. que esteve na génese dos seus criadores e de homens da dimensão de Kohl, Adenaner, Olaf Palme, Mitterand, Soares, Gonzalez, Willy Brandt, Kreisky entre outros.

Poderíamos multiplicar os casos que suportam as preocupações com que olhamos hoje a ausência de rumo da U. E..

Esta é uma questão política prioritária na actual crise Seria gravíssimo o desaparecimento do euro como seria uma tragédia a desagregação da U.E..

É por essa razão que os partidos que, como o PS, sempre lutaram para que Portugal – e bem – aderisse à actual U.E. devem colocar como questão central o aprofundamento dela, contribuindo para influenciar o seu sentido da marcha numa lógica federalista que contrarie as tendências que vão em sentido contrário, hoje suportadas pela maioria dos governos conservadores.

Ela é uma questão prioritária porque é decisiva para o nosso próprio futuro e dos povos europeus em geral. É por isso que tarde ou cedo vai colocar-se com maior clareza e de forma crescente pelos cidadãos a rejeição ao actual estado de coisas da U.E., se não se arrepiar caminho.

Isso não prejudica que não tenhamos plena consciência dos efeitos da crise no plano interno com sérias repercussões no agravamento do desemprego, que se acentuarão nos próximos anos, dos cortes em muitos benefícios e direitos, incluindo sociais, e o mais que sabe, decorrente do acordo que o país firmou com instâncias internacionais. Que não haja ilusões!

Negar esta evidência seria negar o obvio e faltar à verdade o que nenhum militante responsável deve fazer.
Não interessando agora chorar sobre o leite derramado ou imputar culpas, o certo é que para o pedido de auxílio a um empréstimo externo por parte de Portugal não havia alternativa.
E por não haver temos agora de olhar o futuro. O passado é passado. E olhando para o futuro, o PS aparece de novo no centro da sua construção. Temos todos, individual e colectivamente uma grande responsabilidade.

A esquerda à esquerda do PS recusou, como é sabido, sentar-se sequer com a Troika que veio a Portugal negociar o empréstimo, apesar dele decorrer de um pedido dirigido à U.E., de que fazemos parte e que tem a ver com o nosso futuro. Ainda que fosse tão somente para dizerem que não concordavam com o recurso a esse auxilio. Só que não apresentam soluções.

Ao colocarem-se de fora os partidos com assento parlamentar à esquerda do PS auto excluíram-se por natureza como alternativa de poder. Por outro lado os partidos à direita do PS são de facto representantes das políticas que à escala global estiveram na origem da crise mundial, em resultado do endeusamento dos mercados e da desregulação destes.

Hoje é pacífico o entendimento sobre as causas profundas da crise que têm a ver com políticas de direita.

Sendo esta a realidade o momento impõe que os militantes socialistas se mobilizem fortemente para o combate eleitoral do dia 5 de Junho. O futuro passa pelo ideário do socialismo democrático!

Temos plena consciência ao apelarmos para essa mobilização que nem tudo foram rosas na nossa governação e que também nem tudo são rosas no nosso partido. Estamos, como é sabido à vontade para o afirmarmos. Não o invocamos na undécima hora. Só que em política temos a cada momento de saber distinguir o essencial do acessório. A vitória do PS no dia 5 de Junho é essencial porque é importante para Portugal e para os portugueses. Só ela possibilitará, face às declarações dos demais líderes partidários reforçar os entendimentos que forem adequados à grave situação que o país enfrentará depois de 5 de Junho, influenciando novas respostas aos novos e muito graves desafios que o país tem pela frente. Desafios esses que têm a ver com um novo paradigma de vida, como há muito vimos também dizendo para o que todos os cidadãos vão ser mobilizados. Por isso mesmo os socialistas terão de saber dar o exemplo no plano cívico e militante com humildade, rigor, transparência, solidariedade e coragem, para a reconstrução da esperança.

É isso que o país espera do PS!

Setúbal, Maio, 2011

O Presidente da Federação,

Vítor Ramalho

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