30/07/09

O ESFORÇO ESTÓICO DE TERESA E DO CDS (2)


COLUNA SOCIAL


O interesse por Alcácer está a aumentar.
Também o CDS não quis deixar de apresentar candidatura à Câmara. Primeiro mandou enviados à PIMEL fazer contactos políticos, depois, namorou o PSD, assediou socialistas descontentes, convenceu Teresa Noronha que na tourada consultou Paredes. Presidente e Vice Presidente da Distrital correram, a Alcácer, montar estratégia.

No passado sábado - dia de todas as decisões - escrevemos, em um punhado de capítulos, uma caricatura do que foi esse esforço estóico do CDS e aqui publicaremos um capitulo, por dia. Para melhor compreensão, aconselhamos a leitura do capítulo I.

Capitulo II

Não sei se deva
Ou se interesse.
Sei que me maça.
Então porque vou?
Porque acho graça!

Se não há Paredes,
não podíamos pensar em Massano?
Ou Clemente?


Não era um sonho qualquer. Era uma sensação tão boa aquela que se apoderou do subconsciente de Teresa, que lhe fez percorrer caminhos longínquos sem fim à vista, como se do horizonte se tratasse.
_Será que este sonho se pode tornar realidade?
Perguntava Teresa a si própria, no seio do próprio sonho.
_Se calhar nunca se irá transformar em realidade.
Perguntava ainda, ao próprio sonho, na esperança que ele respondesse sim.
E então Teresa, via-se sentada em cadeirão majestoso, de veludo cor de ouro velho e, ao mesmo tempo, no meio de enorme multidão que a aclamava
Entusiasmada, fazia um inebriante improviso, da sacada do palácio.
_Tornei-me incontestada, soberana. Se fosse um instrumento musical, produziria a mais bela das músicas. Sei que não posso dizer nada dessas coisas a quem quer que seja, mas juro que é verdade. Pela primeira vez na vida, eu, mulher da Física, entendi o que queriam dizer na Idade Média, quando falavam da harmonia das esferas. Estou fora, e não apenas vejo as estrelas, também as ouço.
Neste mundo, tudo se dá ao mesmo tempo: poesia, a maneira integral como vivem; é muito sedutor para as pessoas que vêm de algum lugar onde quase tudo está errado. A conseqüência é que tudo, ou quase tudo, se aniquila.

De repente, Teresa perdeu a multidão, o púlpito, e encontrou-se só, não sabendo onde, mas, aparentemente, nos pátios de sua casa, e viu três homens, espécie de soldados, abordá-la e que a meteram numa carroça puxada a cavalo e a levaram a galope, sem lhe dizer para onde.
_Será que estou a sonhar? Será um espírito sofredor, confuso, perdido ou vingativo?
Faço uma prece por ele, e peço a protecção de Deus, de Jesus, do anjo guardião e dos bons espíritos que por mim se interessem e que estejam dispostos a ajudar-me.
Se fiz mal, que me seja permitido reparar esse mal, com bem. Pois o mal só se repara com o bem. Tu, espírito sofredor, podes ver o exemplo dos bons espíritos e perceber que são felizes, ao contrário de ti. Que basta arrependeres-te para as forças do bem te estenderem a mão. E Deus sabe que não vais mudar de um dia para o outro, mas Deus não nos exige impossíveis!
E se és um espírito protector, agradeço-te a protecção - espírito protector - e agradeço a Deus.

Acabavam de se quedar à porta de um palácio e, dois daqueles três homens, severos e grosseiros, logo a puxaram para que descesse e a empurraram escadaria acima. As primeiras portas eram de madeira espessa e estavam escancaradas. Eram servidas por dois escadarios de pedra opostos e que davam no mesmo patamar. Passadas as primeiras portas, havia outras de vidro, que Teresa contornou e que davam para um grande hall onde nasciam mais escadas, em mármore branco, que a meio se faziam em duas e no cimo das quais os soldados lhe indicaram uma porta opaca, por onde entrou, vendo-se, de repente, num salão grande e luxuoso e em cujo topo havia um estrado alto e a meio dele, um trono de rei, pintado a ouro novo, no qual estava sentado um homem com uma coroa na cabeça e um bastão e que lhe pareceu ser seu conhecido. José, João, Pedro, António, Joaquim?!...Pelo que se aproximou dele e tímida, mas esperançadamente, lhe falou familiarmente e com alívio!
_Eu conheço-te! Ai Graças a Deus!
Mas o homem impávido e imóvel, pronunciou grosso e pausadamente:
-Eu quase esperei!
-Repara o estado em que estes homens me trouxeram para aqui - suplicou Teresa.
E o homem sentado no trono, respondeu novamente no mesmo estilo pesado e pausado:
_Disseste estado?! O Estado sou eu.
Teresa encheu-se de medo!
Para encobri-lo olhou de frente, o homem do trono, fez peito e firme a voz e disse alto:
_Não tenho medo da vida, tenho medo de não vivê-la.
Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes.
Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo.
Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la.
Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência.
Teresa achou o homem do trono fulminado e insistiu:
_Julgas-te algum imperador ressuscitado das nossas ruínas romanas, é?!
O que tem isto a ver com os dias de hoje? Com a globalização, com a competitividade que exige excelência, racionalidade e o despoletar das energias de todos, com a democracia?!
E gritou:
_Não há mais lugar a Reis déspotas, prepotentes, absolutos, desumanos, que querem que todos venham servi-lo, bajulá-lo, fazer-lhe mesuras e rapapés!
E parou. Baixou o olhar. Fez-se ouvir um silêncio sepulcral. Levantou o olhar, lentamente.
O trono estava vazio. Perguntou:
_Mas afinal quem é que estava ai sentado?! Era o Pedro?! Era o João?! Quem era?!
E o cadeirão de ouro, agora era pintado a azul e amarelo e nas costas tinha um emblema de clube político, de cor azul e amarelo também, composto por duas setas e uma bola no meio delas. e logo o deixou de ver, para logo o ver de novo e logo o deixar de ver outra vez e assim sucessivamente...
Olhou em redor, não havia soldados, ninguém!
Saiu sorrateira, daquele nobre salão, desceu afugentada as escadarias, abandonou em fuga o palácio e correu desesperadamente muralha fora.
Mas que estranho! Ao acabar a muralha encontrava-se, afinal, em frente ao palácio a olhá-lo admirada ou seduzida. Queria explicar-se, mas não havia a quem. Nas suas costas, Pedro Nunes balbuciou:
-Porque desesperas?!
Teresa virou-se e correu para seus braços:
- Tu que és sábio, o mais sábio de Alcácer, explica-me tudo o que vai por aqui, o que vai neste palácio!
-Pedro Nunes pousava a mão direita na cabeça de Teresa e começava a falar, no instante em que acordou e a vivência daquele sonho, foi tão emocional e intensa, que lhe provocou um acordar repentino e assustado, a um tempo de alívio mas, também, de pena por deixar de vaguear pelo poder e não ter ouvido os conselhos do Mestre.


amanhã leia o capitulo III

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