ROCK IN FÁTIMA
Escrito por Pedro Laranjeira
Rock in Vatican
FÁTIMA 2010
... o Calvário Dourado de Bento XVI
Patrocinador Principal: povo português
Não sendo religioso, sempre achei que as religiões eram valiosas, por incentivar à prática do bem, em detrimento do exercício do mal.
Com mais ou menos tolerância, apontam-nos como irmãos, aconselham o perdão, definem e condenam o pecado.
O que é bom.
São uma linha de orientação que conduz os seus fiéis a um caminho que, às vezes, a sociedade falha em tornar desejável. Onde, às vezes, falha a família, a escola, a própria lei…
Mas… (se eu fosse religioso era aqui que diria mesmo “pelo amor da Santa!”) não exagerem, sejam sensatos, sejam humildes e comedidos. Não percam o sentido das proporções!
Eu sei que vivemos num mundo americanizado.
Assisti à transformação do desporto num grande circo mediático, testemunhei a passagem de Woodstock aos mega-concertos dos dias de hoje, percebi o uso da espectacularidade como psicologia de massas…
… mas há limites!...
A visita de Bento XVI a Portugal, que até tem tido momentos lindos, que até revelou um sumo-pontífice mais simpático que se julgava, está a ser um exagero que raia as fronteiras do condenável.
Não contesto a protecção de segurança que o país lhe deve, quer como líder religioso quer como chefe de estado, mas pergunto a mim próprio quanto é correcto e quanto é exagero.
Nunca uma operação desta envergadura foi montada em Portugal, nem mesmo para o Presidente dos Estados Unidos e, esse sim, tem mais inimigos perigosos que o Papa.
Parece estar a perder-se o espírito cristão em que a Fé se baseia.
Toda a visita tem o formato de um mega-concerto em que a estrela principal é um dos mais importantes homens do mundo e se explora como tal, com seu pleno consentimento. Nada ficou esquecido, nem o merchandizing… até os Correios vendem bandeiras de Bento XVI.
Para quem conhece a doutrina da Igreja, o homem que começou tudo isto era pobre e humilde. Agora entra-nos em casa a transmissão da eucaristia com um grande plano da mão direita do seu representante na terra a ostentar um pesado anel de ouro enquanto pega num cálice de igual calibre que simboliza o receptáculo do sangue de Cristo.
Se é verdade que vivemos numa época em que a maior parte dos nossos exemplos nos chega através de fantasia mediatizada, aprendamos ao menos a lição do Indiana Jones, onde, perante a necessidade de escolher entre dezenas de cálices qual teria sido o de Cristo na última ceia, é explicado que nunca poderia ser um dos cálices em ouro cravejados de pedras preciosas, mas sim o de madeira tosca, pobre e simples, “o cálice do filho de um carpinteiro”.
Perante a dimensão do exagero e quando se fala nos 75 milhões de euros, é constrangedor ter que ouvir comentar, como eu ouvi, que “o calvário percorrido pelo homem que Bento XVI representa na terra deve ter custado menos dinheiro… e, pelo contrário, custou a vida ao seu caminhante”…
As próprias vestes com que a Igreja nos mostra os seus pilares não são as do pescador que a fundou.
Mas é assim que nos chega. Grandes portugueses, como é o caso do padre António Rego e da jornalista Fátima Campos Ferreira são postos ao serviço do grande espectáculo, para que seja perfeito – e é!
O país pára, como vai acontecer durante o Mundial da África do Sul.
Mas não é a Fé que ganha, é o Espectáculo.
Não era preciso. Ghandi foi prova disso!
Os pastorinhos também, incluindo a irmã Lúcia, até à hora da sua morte.
Como alguém disse na televisão, “ser pobre por imposição é quando não se tem remédio, mas a Igreja deveria ser pobre por opção e ajudar os desfavorecidos a libertar-se da sua pobreza”.
A doutrina parece ser para quem é mandado cumpri-la, não para quem a faz - e deixou há muitos séculos de ser a que Bíblia ensina.
O próprio desempenho dos personagens é questionável. Portugal recebeu Bento XVI como líder religioso, mas recebeu-o também como Chefe de Estado e como tal lhe prestou honras.
Como pode então compreender-se que, publicamente, se tenha vindo manifestar contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Independentemente de quem tem razão!
A própria Ministra da Saúde, generosamente, comentou que “já se sabia, não é novidade nenhuma”, mas… o Chefe de Estado do Vaticano fê-lo num país que recentemente legislou sobre essas matérias. Isto, se não é uma indelicadeza em casa de quem o recebe com honras e carinho, aproxima-se perigosamente dos limites da ingerência nos assuntos internos de um Estado Soberano.
Estão as águas todas misturadas!
Mas voltando à dura realidade que regressará às nossas vidas quando Bento XVI for embora: nestes dias de sofrimento e dificuldades, em que vamos sendo entretidos com espectáculos mediáticos que vivem da exploração da Fé de quem a tem, quem sabe a doutrina e segue muito religiosamente os seus princípios … é o Governo.
Permitimos que nos esbofeteasse, estamos agora a dar-lhe a outra face!
17/05/10
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